Foz do Iguaçu (PR), 14 de outubro de 2025 – Gestores de ambientes de inovação, empreendedores e líderes de ecossistemas reuniram-se nesta terça-feira (14) em oficina lúdica e interativa que propôs projetar o futuro das incubadoras, aceleradoras e parques tecnológicos brasileiros. Promovida pelo Sebrae Nacional no segundo dia da 35ª Conferência Anprotec, a atividade combinou imersão histórica e construção colaborativa de cenários para 2030, questionando práticas consolidadas que podem se tornar obsoletas nos próximos anos.
A abertura da sessão ficou a cargo de Marcus Vinícius Bezerra, coordenador de Inovação do Sebrae Nacional, que lembrou a aceleração das transformações globais. Segundo ele, futuristas afirmam que um ano hoje equivale a cinco anos do passado, o que torna a projeção para 2030 equivalente a horizontes muito mais distantes. A provocação aos gestores presentes foi direta: as instituições de apoio trabalham focadas nas dores reais dos empreendedores ou apenas oferecem o que está disponível na prateleira?
A condução da oficina coube a João Ramos, sócio fundador da BS Project, hub de inovação criativa criado em 2017 em Porto Alegre (RS) e hoje presente em Curitiba, Brasília e outras regiões. Ramos estruturou a experiência em três etapas: volta ao passado, análise do presente e projeção do futuro. A proposta foi fazer um exercício prático e lúdico de imaginar como os ambientes de inovação vão funcionar daqui a 5, 10, 15 anos, gerando um documento com orientações práticas para gestores de todo o país.
Metodologia imersiva
A primeira etapa consistiu em uma viagem no tempo. Um túnel montado no corredor da sala exibiu objetos que marcaram épocas: máquinas de escrever, telefones fixos, discos de vinil, fitas VHS. A imersão serviu para despertar memórias de tecnologias que representaram o máximo do desenvolvimento e hoje são peças de museu. A provocação lançada ao grupo foi: o que fazemos hoje sem questionar, mas que daqui a cinco anos parecerá absurdo?
Na etapa seguinte, os participantes foram desafiados a se posicionar mentalmente em 2030 e observar o presente com distanciamento crítico. O exercício propôs identificar práticas, rituais e processos que, embora ainda aceitos nos ecossistemas de inovação, já apresentam sinais de obsolescência. Utilizando um canvas desenvolvido pela BS Project, os grupos mapearam questões centrais e concretas dos ambientes atuais, propondo substituições alinhadas às demandas emergentes de digitalização, inteligência artificial e conectividade global.
Plataformas em vez de estruturas físicas
Entre as tendências apontadas para o futuro dos ambientes de inovação, a desmaterialização surgiu como movimento central. O futuro falará menos de estruturas físicas e mais de plataformas, de lógica de software, de modo de pensar, segundo Ramos. A perspectiva será de digitalização e criação de soluções para atacar dores reais no mercado, não de construir parques tecnológicos como se fossem empreendimentos imobiliários.
Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Nelson Fernandes esteve entre os participantes e observou que os ambientes de inovação amadureceram muito nos últimos 20 anos, mas alertou que o caminho que trouxe os ecossistemas até aqui talvez não os leve para o futuro. “Será que isso é o certo? Todas as promessas que a gente constrói em torno desses dispositivos têm trazido a transformação necessária?”, questionou. A oficina, segundo ele, abriu espaço para repensar configurações e reduzir impactos negativos como falta de diversidade e representatividade.
As contribuições coletadas durante a oficina serão processadas e organizadas em documento que será divulgado posteriormente e fornecerá direcionamentos práticos para gestores de ambientes de inovação em todo o Brasil.
Sobre a 35ª Conferência Anprotec
A 35ª Conferência Anprotec acontece de 13 a 16 de outubro de 2025, em Foz do Iguaçu (PR), com o tema “Ecossistemas colaborativos e integrados à inovação global”. O evento é promovido pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). A realização local é do Sistema Estadual de Ambientes Promotores de Inovação do Paraná (Separtec), da Fundação Araucária, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e do Governo do Estado do Paraná.