



Painel reuniu empreendedores que transformaram conhecimento científico em negócios de impacto social e ambiental, destacando o papel essencial dos professores e dos ecossistemas de inovação
A ponte entre educação e empreendedorismo nunca esteve tão sólida no Brasil. Na manhã desta terça-feira (15), durante a 35ª Conferência Anprotec, o Painel 1 do Sebrae Convida – “Da Sala de Aula à Startup: A Nova Geração da Inovação” – evidenciou como a academia tem se consolidado como berço de soluções inovadoras que transformam não apenas mercados, mas também a sociedade.
Sob mediação de Alessandra Rousseff, consultora de inovação do Sebrae São Paulo, o painel reuniu três empreendedores cujas trajetórias exemplificam a força da integração entre universidade, conhecimento científico e mercado: Juliano Brostolin, cofundador da Pila Multibenefícios; Ana Augusta, fundadora da Somolab; e Leandro Scalabrini, fundador do Grupo SWA. Diante de uma plateia majoritariamente composta por professores, os painelistas reafirmaram o papel central que os educadores desempenham na construção de um ecossistema mais fértil para o surgimento de startups de base tecnológica.
A transição da sala de aula para o mercado não é linear – e o painel deixou isso evidente. Juliano Brostolin, que trouxe ao debate sua experiência com a Pila Multibenefícios, destacou que a academia foi o ponto de ignição de sua jornada empreendedora. “Os professores foram fundamentais. Eles não apenas transmitiram conhecimento técnico, mas abriram portas, apresentaram programas de inovação aberta e nos ensinaram a pensar de forma sistêmica”, pontuou.
A Pila Multibenefícios, apresentada como a primeira solução de benefícios corporativos 100% digital do Brasil, nasceu da identificação de uma dor concreta: as dificuldades enfrentadas por departamentos de recursos humanos na gestão de benefícios tradicionais. Ao eliminar cartões físicos e oferecer uma plataforma integrada, a startup conseguiu unir sustentabilidade ambiental, eficiência operacional e impacto social – pilares que, segundo Juliano, só foram possíveis de estruturar graças ao suporte recebido em programas de aceleração e à base científica adquirida na universidade.
No entanto, o empreendedor não poupou críticas ao ambiente de negócios brasileiro. “Abrir uma empresa não é o problema. O desafio está em mantê-la funcionando em meio à burocracia sufocante e à carga tributária elevada”, afirmou. Para ele, a participação constante em eventos, hackathons e programas de incubação funciona como um antídoto necessário para manter a empresa competitiva e conectada às tendências do mercado.
Se Juliano trouxe a perspectiva do mundo corporativo e das fintechs, Ana Augusta ampliou o horizonte ao apresentar a Somolab, startup voltada para a democratização do acesso à ciência. Sua fala reforçou um argumento central: aproximar a ciência da sociedade é mais do que um objetivo pedagógico – é uma necessidade urgente para formar pensadores críticos e futuros inovadores.
A Somolab desenvolve oficinas e equipamentos científicos que tornam o método científico palpável e acessível, especialmente em escolas e comunidades que não dispõem de infraestrutura laboratorial robusta. Entre os produtos da startup estão amplificadores de sinais eletrofisiológicos que permitem experimentos práticos em sala de aula, despertando nos jovens o interesse pela investigação científica e pelo pensamento estruturado.
“Quando um aluno consegue visualizar na prática como a ciência funciona, ele deixa de ser um espectador passivo e passa a ser um agente transformador”, ressaltou Ana Augusta. O modelo da Somolab exemplifica como a pesquisa acadêmica pode ser traduzida em produtos educacionais escaláveis, que dialogam tanto com professores quanto com estudantes, fortalecendo a base de capital humano qualificado – um dos pilares essenciais para o desenvolvimento de ecossistemas de inovação maduros.
Leandro Scalabrini trouxe ao painel uma perspectiva diferenciada: a de um empreendedor que conseguiu diversificar sua atuação em setores estratégicos da economia brasileira. Fundador do Grupo SWA, Scalabrini lidera uma empresa de tecnologia com sede em Medianeira (PR) que completou 18 anos de atuação, faturamento de R$ 10 milhões e presença consolidada em quatro continentes.
O Grupo SWA atua com soluções tecnológicas voltadas para educação (através da plataforma JACAD), cooperativas de crédito (NeoCred) e, mais recentemente, agricultura familiar (Laços do Agro). Apenas em 2023, a plataforma NeoCred processou mais de R$ 803 milhões em solicitações de crédito, consolidando o grupo como um dos cinco maiores players no setor de software educacional brasileiro. Com mais de 105 profissionais, a empresa mantém operações em 24 estados brasileiros e expandiu-se internacionalmente através de parcerias estratégicas na Europa, Ásia e Estados Unidos.
A trajetória de Scalabrini – que combina formação em Engenharia Agronômica com especialização em Análise e Desenvolvimento de Sistemas – demonstra como a interdisciplinaridade acadêmica pode gerar modelos de negócio resilientes e adaptáveis. Ele é também mentor de startups e palestrante ativo no ecossistema de inovação, reforçando o papel de “devolver” ao sistema o conhecimento adquirido ao longo da jornada.
O painel deixou claro que startups não nascem no vácuo. Elas emergem de ecossistemas de inovação estruturados, que integram universidades, aceleradoras, incubadoras, agências de fomento, investidores e, fundamentalmente, professores engajados. Conforme destacado no debate, o Brasil tem avançado significativamente na construção desses ambientes, especialmente com a promulgação do Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei 13.243/2016), que facilitou a transferência de tecnologia entre academia e mercado.
No entanto, os desafios permanecem. O subfinanciamento da pesquisa científica, a complexidade burocrática e a dificuldade de acesso a capital de risco ainda são barreiras concretas para empreendedores de base tecnológica. Por outro lado, iniciativas como os programas Supernova, Catalisa ICT e Sebraetec Negócios Inovadores, promovidos pelo Sebrae, têm demonstrado que é possível criar pontes efetivas entre o conhecimento gerado nas universidades e as demandas do mercado.
Os casos da Pila Multibenefícios, Somolab e Grupo SWA ilustram que a combinação entre orientação acadêmica qualificada, apoio institucional e acesso a ambientes de experimentação resulta em negócios sólidos, escaláveis e com impacto positivo. Mais do que isso: demonstram que a nova geração de inovadores brasileiros está comprometida não apenas com resultados financeiros, mas com a criação de valor social, ambiental e educacional.
Se há uma mensagem central que atravessou todo o painel, foi o reconhecimento do papel insubstituível dos professores. Eles são, nas palavras dos painelistas, os verdadeiros “arquitetos” da inovação – aqueles que plantam sementes de curiosidade, rigor científico e pensamento crítico nas mentes dos futuros empreendedores.
“Sem os meus professores, nada disso teria sido possível”, reforçou Juliano Brostolin. Ana Augusta complementou: “Professores são agentes de transformação. Quando eles acreditam no potencial dos alunos e os incentivam a experimentar, estão criando as condições para que a inovação aconteça”.
O painel encerrou com um convite à reflexão: como ampliar a integração entre educação, ciência e empreendedorismo? Como criar mais programas que incentivem estudantes a transformarem suas pesquisas em negócios? E, principalmente, como garantir que professores tenham as condições e o reconhecimento necessários para continuar formando a próxima geração de inovadores?
As respostas a essas perguntas definirão, em grande medida, a capacidade do Brasil de se posicionar como protagonista global na economia do conhecimento. E, conforme demonstrado pelos painelistas, os primeiros passos já estão sendo dados – da sala de aula à startup.
Sobre a 35ª Conferência Anprotec
A 35ª Conferência Anprotec acontece de 13 a 16 de outubro de 2025, em Foz do Iguaçu (PR), com o tema “Ecossistemas colaborativos e integrados à inovação global”. O evento é promovido pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com realização local do Sistema Estadual de Ambientes Promotores de Inovação do Paraná (Separtec), Fundação Araucária, Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e Governo do Estado do Paraná.