Primeiro dia da 35ª Conferência Anprotec reúne especialistas para discutir como ambientes colaborativos impulsionam o desenvolvimento regional através da digitalização
Foz do Iguaçu, 13 de outubro de 2025 – A manhã inaugural da 35ª Conferência Anprotec estabeleceu o tom do evento ao abordar um dos temas mais urgentes para o desenvolvimento econômico brasileiro: como a transformação digital, aliada à integração global e à inovação colaborativa, está redesenhando o futuro dos negócios e criando novas oportunidades de desenvolvimento regional. O painel “Transformação Digital e Integração Global” reuniu líderes de diferentes esferas — governo estadual, parques tecnológicos e setor corporativo — para compartilhar experiências e visões sobre o papel estratégico dos ecossistemas de inovação neste contexto.
Sheila Oliveira Pires, Assessora da Diretoria de Planejamento e Gestão da Embrapii e moderadora do painel, abriu a discussão com questionamentos fundamentais sobre como a transformação digital funciona como motor da integração global. Com uma trajetória que inclui 19 anos como Superintendente Executiva da Anprotec e passagens pela Subsecretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo de Goiás, Sheila trouxe à discussão sua expertise na articulação de políticas públicas voltadas à inovação.
A moderadora destacou a importância dos ambientes estruturados — parques tecnológicos, incubadoras e redes de pesquisa aplicada — como espaços vivos onde a transformação digital não apenas se materializa, mas também se democratiza. “Esses ambientes não são apenas repositórios de soluções tecnológicas”, enfatizou. “São ecossistemas que cultivam culturas colaborativas, promovem o letramento digital e estimulam a criação de valor compartilhado.”
A Embrapii, instituição que Sheila representa, exemplifica esse papel articulador. Com mais de R$ 6 bilhões investidos em 3.279 projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação desde 2014, a organização conecta instituições de pesquisa e empresas industriais, dividindo riscos através de recursos não reembolsáveis. Somente em transformação digital, a Embrapii já movimentou R$ 789 milhões em 591 projetos nos últimos oito anos, demonstrando o peso estratégico dessa agenda para a competitividade industrial brasileira. A Rede MCTI/Embrapii de Tecnologias e Inovação Digital reúne atualmente 92 unidades distribuídas pelo território nacional, oferecendo à indústria brasileira um ecossistema de centros de pesquisa para desenvolver produtos e serviços mais seguros, competitivos e inteligentes.
Alex Canziani, Secretário de Estado da Inovação e Inteligência Artificial do Paraná, apresentou as iniciativas do governo paranaense para fortalecer a ciência e tecnologia, com destaque para políticas que buscam criar oportunidades através da qualificação profissional e do fortalecimento de ecossistemas regionais de inovação.
O destaque de sua apresentação foi o Programa Talento Tech PR, descrito pelo secretário como uma iniciativa transformadora que vai além da simples capacitação técnica. Com investimento de R$ 62 milhões, o programa representa a maior iniciativa de qualificação profissional em Tecnologia da Informação e Comunicação do Brasil, beneficiando 3.000 estudantes dos ensinos médio e superior ao longo de três anos.
O diferencial do Talento Tech está em seu modelo de desenvolvimento regional inclusivo. O programa atende exclusivamente os 50 municípios paranaenses com menores Índices de Desenvolvimento Humano, oferecendo cursos de 800 horas com bolsas mensais que variam entre R$ 1.350 e R$ 1.500. Mais do que formar profissionais, a iniciativa busca reter talentos nas regiões de origem, com empresas parceiras — incluindo gigantes como o Google — comprometidas a contratar pelo menos 50% dos formandos em seus municípios de origem.
“O objetivo é criar um ecossistema onde o jovem estuda, se qualifica e trabalha em sua própria cidade, fortalecendo a economia local e evitando o êxodo de talentos”, explicou Canziani, reforçando o papel do Estado como articulador entre academia, setor produtivo e sociedade.
Juliana Cerqueira Melo, Especialista em Inovação no Parque Tecnológico da Bahia, trouxe a perspectiva de como parques tecnológicos funcionam como motores de transformação territorial. Inaugurado em 2012 em Salvador, o Parque, que abriga mais de 30 empresas e instituições de ciência, tecnologia e inovação em uma área de 581 mil m², encontra-se atualmente em processo de requalificação estratégica.
O processo de reestruturação busca promover o letramento digital, a inclusão produtiva e a conexão entre empresas, startups e instituições públicas, criando um ambiente verdadeiramente colaborativo. Entre os objetivos centrais do Parque estão contribuir para o aumento e desenvolvimento do capital intelectual local, disponibilizar infraestrutura e serviços de suporte gerencial e tecnológico, e promover o desenvolvimento econômico e social da região.
Quando questionada por Sheila sobre a importância de ambientes de inovação, Juliana foi direta: “A palavra é colaboração, a colaboração entre esses ambientes. O Parque Tecnológico da Bahia hoje passa por uma reestruturação e requalificação dos espaços para justamente possibilitar aos colaboradores trabalhar melhor, além de adensar a comunidade.”
A abordagem do Parque baiano reflete uma tendência contemporânea nos ambientes de inovação: ir além da simples oferta de espaço físico, criando ecossistemas que facilitam o networking, a transferência de conhecimento e a formação de parcerias estratégicas. Com programas de incubação que atendem startups do interior da Bahia através de modelo híbrido, o Parque demonstra como a transformação digital pode ampliar geograficamente o alcance dos ambientes de inovação.
Fábio Carvalho, PO Dados da Gerência de Analytics na Brasilseg, trouxe a dimensão corporativa ao debate, compartilhando os desafios e oportunidades que as cadeias globais enfrentam diante da digitalização. Com sólida experiência em transformação digital corporativa, Fábio apresentou uma visão holística do processo.
“Os pilares da transformação digital são pessoas, tecnologia e cultura”, afirmou categoricamente. Em sua análise, as pessoas que lideram com visão compõem o ambiente, a tecnologia é quem habilita e estrutura, e a cultura é quem acolhe o novo. “Transformar digitalmente uma cadeia global vai muito além de implementar sensores, adotar inteligência artificial ou automatizar tarefas”, explicou. “Trata-se de uma verdadeira reconfiguração da forma como pensamos, operamos e nos conectamos com o mundo.”
A perspectiva de Fábio ressoa com os desafios enfrentados por empresas em todo o mundo: a necessidade de promover mudanças culturais profundas que permitam às organizações não apenas adotar novas tecnologias, mas reimaginar completamente seus modelos de negócio e processos. No contexto das cadeias globais, isso significa repensar desde a gestão de fornecedores até a experiência do cliente, passando pela capacitação contínua de equipes e pela criação de culturas organizacionais que valorizem a experimentação e a aprendizagem constante.
O painel evidenciou que a transformação digital não é apenas uma questão tecnológica, mas fundamentalmente uma questão de ecossistemas colaborativos. As três esferas representadas — governo (Canziani), ambientes de inovação (Juliana) e setor corporativo (Fábio) — demonstraram como suas ações se complementam e reforçam mutuamente.
As políticas públicas de qualificação, como o Talento Tech, alimentam os parques tecnológicos com profissionais capacitados. Os parques, por sua vez, oferecem infraestrutura e ambiente propício para que startups e empresas inovem. As empresas, finalmente, validam as soluções desenvolvidas no mercado e retroalimentam o ecossistema com demandas reais e oportunidades de emprego.
A discussão também destacou a importância do letramento digital como instrumento de inclusão social e desenvolvimento regional. Iniciativas que levam qualificação tecnológica para municípios com menores índices de desenvolvimento, como o Talento Tech, ou que facilitam o acesso de startups do interior a ambientes de inovação de excelência, como o Parque Tecnológico da Bahia, foram citados como exemplos de como a transformação digital pode contribuir para a redução de desigualdades regionais.
Sobre a 35ª Conferência Anprotec
A 35ª Conferência Anprotec acontece de 13 a 16 de outubro de 2025 em Foz do Iguaçu (PR), com o tema “Ecossistemas colaborativos e integrados à inovação global”. O evento é promovido pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). A realização local é do Sistema Estadual de Ambientes Promotores de Inovação do Paraná (Separtec), da Fundação Araucária, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e do Governo do Estado do Paraná.