Durante a programação do Sebrae Convida na 35ª Conferência Anprotec, Diego Contezini, CEO do Asaas, compartilhou a trajetória de construção de uma fintech de impacto nacional. Fundada em 2010 pelos irmãos Diego e Piero Contezini em Joinville (SC), a empresa hoje atende mais de 220 mil clientes ativos e registra receita recorrente anual superior a R$ 500 milhões, consolidando-se como referência em automação financeira para pequenas e médias empresas (PMEs).
Do Problema Interno à Solução de Mercado
A história do Asaas surgiu de uma necessidade real enfrentada pelos irmãos ao operarem a Informant, uma fábrica de software que também originou startups como a ContaAzul.O processo manual de cobrança consumia tempo excessivo das equipes, revelando uma lacuna no mercado de soluções financeiras acessíveis. Em uma época em que bancos tradicionais ignoravam microempreendedores individuais (MEIs) e autônomos, os Contezini identificaram a oportunidade de democratizar ferramentas de gestão financeira.
O Ponto de Virada: Observação Prática dos Usuários
Nos primeiros meses, a empresa contava com centenas de usuários em teste, mas nenhum cliente pagante. “Nos primeiros meses, tínhamos centenas de usuários em teste, mas nenhum cliente pagante”, revelou Diego durante a palestra. O ponto de virada veio de uma observação prática sobre o comportamento dos usuários.
Diego contou o episódio de um cliente que telefonava pedindo ajuda para gerar boletos em um computador antigo — o chamado “caso Pedro”, que revelou o público-alvo real da empresa. Esse momento destacou profissionais simples — encanadores, pequenos comerciantes e prestadores de serviço — que precisavam de soluções diretas e funcionais, sem complexidade tecnológica.
Reconstrução Centrada no Usuário
Com base nessa percepção, a equipe decidiu reconstruir completamente o produto em 2014. “Decidimos reconstruir tudo do zero. A lógica era clara: oferecer apenas o essencial que os clientes pediam, sem complexidade desnecessária”, destacou o CEO. Essa abordagem reduziu o tempo gasto em processos de cobrança de aproximadamente 18 dias por mês para apenas 5 minutos diários, automatizando emissão de boletos, cartões, PIX e comunicação de cobranças.
Cultura de Testes A/B como Pilar Científico
A filosofia minimalista foi apoiada por um método rigoroso: testes A/B com relevância estatística. “Instituímos uma cultura de testes A/B científicos. Cada alteração só é incorporada se apresentar relevância estatística e ganho comprovado. Mais da metade dos nossos experimentos falham — e isso é ótimo”, afirmou Diego.
Segundo Piero Contezini, todos os envolvidos na empresa são ‘viciados em fazer testes’. Essa prática, comum em empresas de tecnologia, ajuda a reduzir vieses e basear decisões em dados, não em convicções pessoais.
Diversidade Complementar na Liderança
O Asaas nasceu da combinação de perfis complementares: a paixão técnica de Piero e a visão de Diego voltada para pessoas e propósito. Em 2024, a empresa foi reconhecida como um dos Melhores Lugares para Trabalhar no Brasil pela Great Place to Work (GPTW), resultado de práticas intencionais de construção cultural.
Remote-First como Vantagem Competitiva
Desde 2019, o Asaas adotou o modelo remote-first, com mais de 800 colaboradores distribuídos pelo Brasil. “Adotamos o modelo remoto-first em 2019, antes da pandemia. Digitalizamos rituais de integração e criamos práticas consistentes para preservar a proximidade e a identidade organizacional”, contou Diego.
Uma iniciativa marcante foi o KickOff 2025, que reuniu presencialmente toda a equipe pela primeira vez. Clientes do Asaas também apresentam taxa de sobrevivência de 78% entre 12 e 36 meses, contra 56% da média brasileira.
Disciplina Financeira como Fundação
Diferente de startups que queimam caixa em rodadas iniciais, o Asaas foi lucrativo desde o primeiro mês. “Nosso crescimento não se deu por rodadas gigantescas no início, mas por austeridade financeira e busca por sustentabilidade”, explicou Diego. Até 2024, captou R$ 150 milhões ao longo de uma década, com crescimento médio superior a 100% ao ano nos últimos cinco anos.
Em 2024, a fintech realizou uma Série C de R$ 820 milhões, liderada por BOND Capital, com SoftBank, 23S Capital e Endeavor Catalyst — uma das maiores rodadas de tecnologia na América Latina. A empresa projeta faturar mais de R$ 1 bilhão até 2026 e ultrapassar R$ 2 bilhões em 2027, com planos de expansão que podem incluir uma eventual IPO.
Expansão Estratégica do Portfólio
Em 2021, o Asaas tornou-se a 31ª Instituição de Pagamento autorizada pelo Banco Central e obteve licença como Sociedade de Crédito Direto (SCD). Realizou aquisições seletivas: Base ERP e Code Money (2021) e NexInvoice (2024). Em 2025, conquistou nota AAA da S&P Global Ratings em seu terceiro FIDC, captando R$ 100 milhões para crédito e antecipação de recebíveis.
Lições para Ecossistemas de Inovação
A trajetória do Asaas oferece insights práticos para parques tecnológicos, incubadoras e aceleradoras:
Diego sintetizou ao final: “A grande lição é que inovação e futuro dos negócios dependem de foco no cliente, cultura sólida e execução disciplinada. Essa é a tríade inegociável”. Para ecossistemas de inovação, o Asaas prova que combinar empatia, rigor metodológico, liderança complementar, disciplina financeira e investimento em cultura gera empresas de impacto duradouro.