Na tarde de ontem, durante a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (V CNCTI), foi realizado o painel “Eixo II – Cooperação Universidade Empresa: articulação e adequação de instrumentos”. O debate contou com a participação de membros da comunidade acadêmica e de inovação, incluindo o vice-presidente da Anprotec, Tony Chierighini, e o diretor de Relações Internacionais da Anprotec, Romildo Toledo. Também participaram Clelio Campolina (UFMG), Gesil Sampaio (Fortec), Elias Ramos de Souza (FINEP), que coordenou a mesa, e Sheila Oliveira Pires (MCTI), encarregada da relatoria deste Eixo.
O painel abordou a importância da cooperação entre universidades e empresas como um fator crucial para o desenvolvimento de uma economia baseada no conhecimento e na inovação. Durante o painel, discutiu-se como a articulação e adequação dos instrumentos de colaboração podem potencializar o impacto das pesquisas acadêmicas no setor produtivo, gerando soluções inovadoras que atendam às necessidades do mercado e promovam o desenvolvimento econômico e social do Brasil.
Dando início ao debate, Elias de Souza contextualizou sobre a importância da academia no potencial de apoio à inovação nas empresas, apontando benefícios como a infraestrutura de pesquisa avançada e a formação de recursos humanos de alta qualificação e conhecimento técnico e científico. Elias mencionou também ações do governo federal neste sentido, “na FINEP nós incentivamos a cooperação entre ICT-Empresa por meio de chamadas que possuem essa parceria como critério obrigatório na subvenção. Além disso, a busca por parcerias com ICT’s foi ampliada nos projetos de crédito”, explicou.
Em seu discurso, Tony Chierighini contextualizou que a indústria e as universidades enfrentam pressão por inovação e recursos financeiros, enquanto incubadoras e aceleradoras sofrem com a falta de fomento adequado, complicando o desenvolvimento de novas empresas.
Como recomendação, o vice-presidente da Anprotec afirma que “para enfrentar esses desafios, é essencial que as universidades busquem um equilíbrio criativo com o ambiente, visto como um sistema aberto e em constante mudança. Precisamos treinar e aproximar ainda mais os professores dos laboratórios das incubadoras e parques tecnológicos para que tenham um maior entendimento das necessidades reais das empresas”.
Na sequência, Romildo Toledo tratou sobre como o estímulo ao empreendedorismo e à formação de mão de obra qualificada na universidade, aliado à conexão com o setor produtivo, pode moldar um futuro inovador, socialmente justo e ambientalmente sustentável para a população.
Para o diretor da Anprotec, dentre os desafios para o fomento e relações com o setor produtivo na articulação e adequação de instrumentos estão: financiamento insuficiente; necessidade de políticas robustas e contínuas; desarticulação entre agentes federais, estaduais e municipais; presença limitada das secretarias municipais de C,T&I, com exceção de grandes cidades; e baixa participação da iniciativa privada.
Outro ponto destacado por Romildo foi a necessidade de ampliação e distribuição de instituições promotoras de inovação pelo Brasil. “Hoje temos uma concentração de centros de inovação no sul e sudeste. Se nós buscamos um Plano Nacional de Inovação, a política deve ser nacional”, concluiu.
Gesil Sampaio, presidente do Fortec, fez um balanço das políticas de inovação das ICTs e NITs, assim como uma avaliação dos quase 20 anos da Lei de Inovação. Para ele, o Brasil possui hoje um arcabouço legal bastante moderno que, em muitas situações, encontra-se à frente da realidade das instituições.
“A Lei 13.243/2016 é muito bem elaborada. Em seu artigo 16, por exemplo, determina que toda ICT deverá ter um Núcleo de Inovação Tecnológica. Porém, na prática esse papel, em muitas instituições é muito fraco, com carência de profissionais, que atuam de maneira sobrecarregada. Por falta de equipe, muitas vezes, temos uma prateleira de patentes, que não tem vazão para o mercado”, explica Gesil.
Outro destaque de sua fala foi para a ainda baixa articulação entre os atores do nosso ecossistema. “Ainda carecemos de uma integração entre os esforços federais, estaduais e municipais em CT&I, que praticamente não acontece. Temos o exemplo do SUS, que na saúde consegue gerir instituições de diferentes instâncias de forma colaborativa e harmônica”, apontou ele.
Já Clelio Campolina, docente e ex-reitor da UFMG, trouxe o caso da Universidade para apresentar desafios e oportunidades para a colaboração ICT-Empresa. “Nós temos como papel auxiliar no ‘salto mortal’ da ciência para a técnica, da técnica para a tecnologia, da tecnologia para o mercado. E esse é um esforço conjunto de todos os atores”, explicou ele.
O ex-ministro do MCTI também trouxe um exemplo de como a legislação pode avançar para auxiliar nessa passagem. “Recentemente, pesquisadores da UFMG conseguiram desenvolver um nanoscópio – equipamento óptico que revela imagens na escala do nanômetro (medida 1 bilhão de vezes menor que o metro) – e que pode ser utilizado para o desenvolvimento da nanotecnologia. É uma tecnologia muito complexa. Só que até hoje só conseguimos vender para Alemanha, mas não conseguiu vender no Brasil, que ainda tem amarras em suas leis de compras”, compartilhou.
Ao final do encontro, Sheila Pires, diretora de ambientes de inovação do MCTI e ex-superintendente da Anprotec, responsável pela relatoria do Eixo III, fez um balanço das falas dos presentes à mesa. “Tivemos um painel de altíssimo nível, com falas ricas e muitos aprendizados. Elias apresentou um panorama das ações do governo federal, exemplificando com a Finep tem agido para incentivar a parceria ICT-Empresa em suas chamadas. Tony e Campolina compartilharam experiências de dois ecossistemas locais onde universidades, parques tecnológicos e incubadoras são cruciais para a geração de empreendimentos inovadores, impactando positivamente a sociedade e a economia. Romildo enfatizou a necessidade de disseminar esses exemplos pelo país, que hoje são muito concentrados no eixo sul-sudeste, e destacou a importância de uma política de formação de recursos humanos que sustente e esteja alinhada à política industrial. Gesil, por sua vez, abordou o marco legal como uma ferramenta de gestão da inovação e reforçou a necessidade de articulação do sistema nacional de CT&I para a implementação efetiva das políticas”, resumiu ela.
A CNCTI deste ano tem como tema “Ciência, Tecnologia e Inovação para um Brasil justo, sustentável e desenvolvido”. Desde dezembro de 2023, a conferência tem promovido mais de 270 eventos preparatórios, engajando mais de 100 mil pessoas de diversos setores sociais em todos os estados brasileiros. Esses eventos têm sido fundamentais para fomentar a discussão e a colaboração em torno de temas essenciais para o futuro do país, alinhando esforços em direção a um Brasil mais equitativo, sustentável e próspero.
A Anprotec continua a desempenhar um papel vital na promoção da inovação e do empreendedorismo no Brasil, e a participação de seus representantes na CNCTI reforça seu compromisso com a construção de um ecossistema robusto de ciência, tecnologia e inovação.
Confira o painel completo em https://www.youtube.com/watch?v=DvSnhMS6Jog