O Painel 3 – Financiamento, da manhã de 25 de novembro, no segundo dia da 30ª Conferência Anprotec 2020, reuniu diferentes abordagens e visões sobre o tema da sustentabilidade financeira de ambientes de inovação e seus empreendimentos tecnológicos. Guila Calheiros, superintendente executivo da Anprotec, coordenou o debate.
Docente da Faculdade de Economia e Administração da Universidade Estadual de São Paulo (FEA/USP), Graziella Comini foi a primeira participante do painel. Ela também é coordenadora do Centro de Empreendedorismo Social e Administração do Terceiro Setor (CEATS), também ligado à universidade paulista e trouxe para a discussão um estudo do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), que trata da sustentabilidade financeira de organizações que apoiam empreendimentos de impacto.
“O foco do trabalho foi compreender as condições necessárias para o desenvolvimento da sustentabilidade financeira de aceleradoras e negócios de impacto”, explicou Graziella. O trabalho mostrou que a temática do impacto social e ambiental cresceu de forma consistente nos últimos 10 anos, mas que 29% das incubadoras e aceleradoras que atuam com este tipo de negócio têm grande dependência de suas instituições mantenedoras, como universidades e ICTs, por exemplo.
“O que chamou a nossa atenção foi que poucas destas organizações têm um planejamento estratégico para os próximos cinco anos, ou seja, são instituições que têm focado muito na sua sobrevivência”, apontou a pesquisadora.
O estudo também abordou o impacto que a pandemia teve nos negócios abrigados nestes ambientes. Aqueles que tiveram queda em seu faturamento, possuíam produtos e serviços pouco intensivos em tecnologia. Dentre os que tiveram crescimento, estavam os que tinham características opostas aos primeiros, ou seja, maior grau de digitalização. Já os que escalaram na pandemia, com crescimento superior a 50%, foram aqueles que possuíam soluções de base tecnológicas ligadas às áreas mais afetadas, como saúde, educação, ecommerces e logística.
“Para os ambientes que abrigam as empresas, a pandemia trouxe outros desafios, como a adaptação de seus espaços físicos, ampliação e criação de serviços online, como incubação à distância, busca de fontes alternativas de recursos, como em projetos com corporações. ‘Desacomodação’ foi a palavra mais citada”, explicou Graziella.
Rodrigo Menezes, sócio do escritório de advocacia Derraik & Menezes especializado em fusões e investimentos na área de tecnologia, apresentou um balanço dos negócios realizados em 2020. “Apesar de um período em que todo mundo se retraiu, o ano apresentará um crescimento nos acordos de fusão e aquisição, bem como aporte de venture capital em startups”, contou o advogado.
Segundo ele, em 2019, o mercado de venture capital movimentou cerca de R$ 12,9 Bi em aportes no Brasil. Este ano, o setor apresentou, até outubro, um número de R$ 12,3 Bi. “Ou seja, certamente vamos superar o ano passado. Vale destacar que além dos aportes, tivemos um grande movimento daquilo que chamamos de acquihire, que é a compra de uma empresa pela outra com foco na criação de novas competências. Por exemplo, quando uma empresa de logística compra uma startup de inteligência artificial para trazer para dentro de casa essa competência”, explicou.
Apesar da pandemia, Rodrigo vê o mercado brasileiro de venture capital com boas perspectivas. “Há um crescimento sustentável de deals e temos o Marco Legal de Startups em vias de ser aprovado, o que deve fortalecer ainda mais o setor. Existe muito dinheiro disponível. Cabe aos ambientes de inovação e aos empreendedores mapear os fundos, entender o seu histórico de investimentos e apresentar propostas alinhadas a eles. Para negócios estruturados e com potencial de crescimento não vai faltar capital”, concluiu.
Já Técia Vieira Carvalho, presidente do Núcleo de Estudos e Pesquisas do Norte e Nordeste (NEPEN), apresentou as diversas formas como a instituição atua na diversificação da sua captação de recursos. “Nós somos muito criativos para atrair dinheiro e viabilizar nossos projetos. Trabalhamos com editais CPNq, Finep, Embrapii, leis de incentivo como a Lei de Informática, o P&D Aneel do setor elétrico, além de buscar parcerias com empresas, como a que temos com a fabricante de eletrônicos Constanta, que nos permitiu criar um posto avançado em Atibaia-SP, o ‘Instituto Constanta de Inovação – by Nepen’, abrindo novas oportunidades para nossos empreendedores”, detalhou Técia.
A executiva explicou o papel dos diferentes programas do Nepen, como Centro de Empreendedorismo e Inovação (CEI), que ajuda a transformar projetos em negócios, incentivando a criação de empresas e transferência de tecnologia. O núcleo também dispõe de um espaço chamado incubaworking, que recebe e alavanca as empresas, por meio de assessoria de negócios e inclusão de competências. “Assim como buscamos diversas fontes de financiamento, não queremos também ter o rótulo de incubadora, parque ou aceleradora. Somos um ambiente que fomenta novos negócios. Inclusive, nossas estruturas têm nomes bastante sugestivos: MAE (Mecanismo de Apoio ao Empreendedorismo) e PAI (Programa de Apoio à Inovação) que dão todo o suporte para os projetos instalados no núcleo”, brincou.
Complementando a fala de Técia, Guila Calheiros ressaltou que além dos dispositivos citados, o Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação permite aos ambientes ainda mais formas de captação de recursos, como a criação e gestão de fundos e até a participação em equity.