Senai Cimatec inaugura, na Bahia, único centro da América Latina capaz de desenvolver projetos da concepção à certificação de produtos
Considerado pelo setor da indústria o principal centro de suporte à inovação no País, o Senai Cimatec Park será inaugurado nesta segunda, 11, inicialmente com 11 prédios. Eles vão abrigar laboratórios de testes de produtos em escala natural, produção de protótipos, montagem de plantas-piloto industriais, infraestrutura para pesquisas e ensaios em atividades de alto risco.
O complexo é o único na América Latina que poderá desenvolver projetos para empresas em todos os níveis tecnológicos, da concepção até a certificação e homologação do produto. Também terá área para testes de produtos que não podem ser feitos em ambiente urbano, como o de reatores usados pela indústria química e petroquímica.
Construído em área de 4 milhões de m² no polo industrial de Camaçari (BA), o parque tecnológico abre as portas com planos de ampliação. Segundo Leone Andrade, diretor do Senai Cimatec (Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia), todos os galpões estão ocupados e uma empresa americana, cujo nome não foi revelado, ficou com quatro deles e já solicitou mais um.
Já foram investidos R$ 87 milhões, valor bancado com empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e suporte do Senai Nacional e do Senai da Bahia. Com ampliação e novos projetos, o aporte atingirá R$ 330 milhões até 2024. Até 2020 cerca de mil técnicos e engenheiros trabalharão no complexo.
O terreno é o mesmo que havia sido entregue para a JAC Motors construir sua fábrica mas, com o fracasso do projeto, voltou para as mãos do governo e foi adquirido “por preço subsidiado”, informa Andrade.
Entre as empresas que já têm parcerias com o Senai Cimatec e que terão projetos iniciados ou migrados para o novo centro estão CSN, Vale, Nexa (antiga Votorantim Metais), Shell, Ford e Quantas Biotecnologia.
“A proposta de valor das atividades do centro de inovação através da prestação de serviços técnicos e tecnológicos e de pesquisa aplicada de alto nível é fundamental na estratégia de modernização e aumento da competitividade da indústria nacional”, afirma Nilza Cristina Zwirman, gerente de Inovação e Tecnologia da CSN.
Carro mais leve
Um dos projetos em que a CSN tem parceria tecnológica com o Senai Cimatec na Bahia é voltado à aplicação de aços avançados revestidos para o setor automobilístico, visando reduzir o peso dos veículos, o que resulta em menor consumo de combustível e menor emissão de gases.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Ricardo Alban, diz que o parque tecnológico “é o elemento que faltava para que Bahia e Brasil pudessem se preparar para desenvolver novas alternativas, seja no campo das energias renováveis, da indústria 4.0 e de outras tantas inovações que fazem parte da dinâmica do setor industrial”.
Alban acredita que novas empresas serão atraídas para o Estado e que já há cinco grupos interessados. Ressalta que também serão atendidas médias e pequenas empresas que poderão desenvolver projetos a custos e condições “muito favoráveis”.
Andrade informa que futuramente o complexo abrigará também um campo de provas com padrão mundial para teste de veículos pela indústria automobilística e postos de petróleo para testar equipamentos em ambiente controlado. Será possível simular a extração utilizando um fluído com a mesma viscosidade do petróleo.
Reconhecimento
Em visita ao parque na semana passada, Frank Kirchner, diretor do Centro de Pesquisa Alemão para Inteligência Artificial (DFKI), anunciou que desenvolverá projetos com o Cimatec. “Acredito que o parque vai ser de grande contribuição para o Brasil, inclusive para o reconhecimento internacional do País em desenvolvimento tecnológico.”
Inaugurado em 2002 em Salvador, o Cimatec tem 56 laboratórios. Em 2018, realizou em parceria com indústrias de vários setores 72 projetos de pesquisa e desenvolvimento, com apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Também mantém um centro universitário com 2 mil alunos em cursos de engenharia, pós-graduação, MBA, mestrado e doutorado, além de uma escola técnica com 1,6 mil alunos.
A Nexa (dona da Votorantim Metais) tem parcerias com o Cimatec há vários anos e também terá projetos no parque tecnológico. Um dos trabalhos desenvolvidos conjuntamente e que está sendo aplicado na fábrica de Três Marias (MG), é o de substituição do óleo de petróleo usado nos fornos por bio-óleo obtido do eucalipto, que praticamente zera a emissão de gases de efeito estufa nessa operação.
“Além do ganho ambiental, a inovação também vai trazer economia, pois o bio-óleo custa quase 15% menos que o combustível tradicional”, diz Rodrigo Gomes, que é gerente geral de Inovação da Nexa.
Fonte: Estadão