Nas próximas décadas, a tecnologia vai transformar radicalmente a sociedade e as relações de consumo. Se no final do século XVII a primeira fase da Revolução Industrial foi marcada pelo advento da máquina a vapor, na Inglaterra, hoje o mundo se depara com a quarta etapa da Revolução Industrial, marcada pela era da informação digital: a Revolução 4.0. A tecnologia da informação vem se tornando uma parte essencial dos processos industriais e as decisões passam a ser tomadas de forma automática, a partir do uso de um grande conjunto de dados armazenados, chamado de Big Data.
No atual contexto histórico, a chamada “Internet das Coisas”, também conhecida pela sigla IoT (das iniciais, em inglês, de “Internet of Things”), desponta como uma área promissora no mundo da tecnologia. Trata-se de uma infraestrutura de rede que interliga objetos físicos e virtuais, gerando um grande volume e processamento de dados que desencadeiam ações de comando e controle das “coisas” ou objetos. Apontando novos caminhos nesse campo do conhecimento, a startup #WingsInside, empresa nascente de base tecnológica integrante da Incubadora de Empresas Tecnológicas do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Ietec/Cefet-RJ), no campus Maracanã, vem desenvolvendo tecnologias inovadoras para dar autonomia a diversos objetos, que são, assim, capazes de transmitir e receber informações apuradas por meio de sensores conectados aos usuários, de serem programados para ligar e desligar sozinhos ou de se comunicar com outros aparelhos.
Com a “Internet das Coisas”, as relações sociais não se darão apenas entre pessoas e pessoas, mas também entre coisas e pessoas, e entre as próprias coisas. E essa é uma tendência sem volta. Estima-se que o número de dispositivos – smartphones, tablets, smartTVs, computadores pessoais, relógios, acessórios e outros objetos – conectados à Internet vai chegar a 50 bilhões até 2020, de acordo com relatório divulgado pela Cisco Internet Business Solutions Group (Cisco IBSG). Para se ter uma ideia da expansão dessa área, em 1984 apenas mil dispositivos estavam conectados à Internet. Em 2010, esse número subiu para 10 bilhões.
Imagine, por exemplo, uma piscina que se aquece automaticamente quando você inclui um churrasco na sua agenda; uma casa projetada para desligar as luzes e o fogão em determinada hora do dia ou um táxi que se orienta a partir das suas datas de compromissos. “A união dessa explosão de dispositivos conectados com a capacidade de análise de informações mudará a forma das tomadas de decisão e da produção de todos os segmentos do mercado, desde eletrodomésticos a bens de alta performance, passando por residências até o modo de treinar e avaliar resultados de atletas de competição”, explica o diretor executivo da #WingsInside, Ricardo Villaça.
Pensando nesse nicho de mercado, um dos produtos concebidos pela empresa é o Atlas, um equipamento esportivo, inicialmente concebido para ser usado por lutadores de artes marciais, com o objetivo de medir a exatidão e a frequência dos golpes e de analisar os dados físicos do atleta de forma inteligente, elaborando relatórios e sugestões de melhoria para os movimentos. A tecnologia permite que a combinação entre conexão cerebral, tônus muscular, tempo de reação dos movimentos e efeitos do golpe no adversário possam ser trabalhados na superação dos limites de cada atleta. “São equipamentos inteligentes, como aparadores de golpes, luvas e sacos de pancada, que medem com precisão a velocidade, o tempo de reação, a força e a potência de sequências de golpes definidas para um determinado tempo de treino. O atleta pode comparar, por exemplo, a exatidão de um chute lateral com um frontal, ou até mesmo os níveis de intensidade de um soco direto com um chute giratório”, diz um dos sócios fundadores da empresa, Daniel Pini.
Os resultados são comunicados ao atleta imediatamente após a execução dos movimentos e podem ser visualizados diretamente por meio de um aplicativo do Atlas, um app para ser instalado em smartphones com sistema Android. Os lutadores interagem com os dispositivos por meio da comunicação bluetooth, totalmente sem fio, o que permite uma mobilidade real aos atletas. “Uma das características interessantes do Atlas é a liberdade que ele dá ao atleta ou ao seu treinador de criar uma seleção de golpes ou sequências. Essas técnicas esportivas são analisadas pelo sistema precisamente, que avalia a eficácia e eficiência de cada golpe, e de uma forma não invasiva, pois não existem sensores atrelados ao corpo do lutador”, acrescenta.
A história da #WingsInside começou há quatro anos, quando os então estudantes da graduação em Engenharia de Controle e Automação do Cefet-RJ Daniel Pini e Renato Theobaldo decidiram ser sócios. Com o apoio da Ietec, eles criaram um negócio voltado para o desenvolvimento de produtos inteligentes. Atualmente, a startup dos jovens empreendedores – ambos com 28 anos –, continua a funcionar nas dependências da incubadora, localizada no campus Maracanã da universidade. “Fomos alunos de Iniciação Científica do Cefet-RJ. Gostávamos de robótica e passamos a estudar como desenvolver projetos de hardware e software. Como eu sempre gostei de lutas e, já naquela época, lutava taekwondo, notei as lacunas de mercado que existem nesse segmento. Juntos, observamos que há uma demanda pela tecnologia de IOT no esporte, ainda pouco explorada”, conta Pini.
O conceito mais adequado para os produtos elaborados pela #WingsInside é o de “Inteligência das Coisas” – um neologismo criado pelos sócios para identificar uma área de atuação que vai além da “Internet das Coisas”. Theobaldo destaca que esta já é mundialmente conhecida, mas a “Inteligência das Coisas” é uma área ainda embrionária. “A ‘Internet das Coisas’ é quando você tem tudo conectado a tudo, como, por exemplo, quando se controla a iluminação de uma casa por meio do comando de um celular, conectado com o seu computador. A Inteligência ocorre quando o sistema entende a necessidade do usuário e toma decisões por ele. No caso do nosso produto voltado para o esporte, o Atlas age de forma autônoma, indicando onde estão as fraquezas do atleta e em que situações ele tem mais fadiga, por exemplo”, explica.
A chave para a inteligência artificial dos produtos da #WingsInside é uma pequena placa criada pelos empreendedores, que ganhou o nome de Córtex, em alusão ao córtex cerebral, região responsável pela inteligência e outras atividades fundamentais no corpo humano. O sistema funciona a partir de códigos criados pelos próprios empreendedores, que dão vida à placa. “No nosso caso, a Inteligência está em dar vida a objetos a partir de uma espécie de computador interno, o Córtex, que podemos colocar dentro de qualquer coisa, até mesmo em uma porta. Introduzimos esse conceito no esporte para otimizar a performance dos atletas, com esse hardware inserido nos equipamentos esportivos inteligentes”, resume Theobaldo.
Na disputa acirrada pela conquista de medalhas, essa tecnologia aliada ao treinamento esportivo pode se tornar um diferencial para o sucesso dos atletas brasileiros. “Com o monitoramento computacional oferecido pelo Atlas, o atleta pode repetir as mesmas técnicas muitas vezes, até encontrar o ponto ótimo de execução”, analisa Pini. Outro ponto positivo é o fato da tecnologia ser totalmente nacional. “Estamos empenhados em lançar algo inovador no mercado, em uma fronteira do conhecimento, que vai promover na sociedade uma verdadeira revolução tecnológica nos próximos anos. O País não pode ficar de fora desse processo”, completa Theobaldo. O Atlas, já patenteado, está em etapa de testes de uso, por lutadores da Seleção Brasileira de Mixed Martial Arts (MMA). A expectativa é que em dois anos eles possam comercializar a tecnologia de forma sólida, para a população ter acesso.
A #WingsInside também desenvolve outros produtos inteligentes. Um deles – já comercializado, mas ainda em fase de aprimoramento – é um sistema para prevenir acidentes e auxiliar na manutenção de veículos de carga pesada. “Caminhões de qualquer porte e ônibus recebem a instalação do sistema Wings, com sensores que alertam sobre problemas mecânicos presentes. Os sensores avaliam, tomam decisões e, com base em previsões, sinalizam situações do veículo ainda não ocorridas, mas que podem ser evitadas, como o desgaste de determinada peça. O consumo de combustível e a poluição sonora também são observados e minimizados”, conta Theobaldo. Ele acredita que esse tipo de sistema para veículos vai se popularizar na próxima década. “Em cerca de cinco ou oito anos, já teremos carros inteligentes comercializados de forma popular nos países desenvolvidos. No Brasil, esse segmento abre mais uma frente de atuação para a #Wings”, prevê.
*Fonte: FAPERJ