Discussões sobre o caso de sucesso na cooperação entre a Anprotec, a Samsung e o Centro de Economia Criativa e Inovação de Daegu (CCEI Daegu), da Coreia do Sul, pautaram o evento Creative Startups Talks, realizado pelo Programa Creative Startups em São Paulo (SP) no dia 23 de abril.
A ação trouxe ao Brasil o CEO do CCEI Daegu, Kyu Hwang Yeon, para abordar a experiência sul-coreana em economia criativa. Na ocasião, também foi celebrada a assinatura de dois documentos voltados à cooperação internacional entre o Brasil e a Coreia do Sul.
O presidente da Anprotec, José Alberto Sampaio Aranha, a superintendente executiva da Associação, Sheila Pires, e o Coordenador de Startups da Samsung Brasil, Paulo Quirino, estiveram no evento e puderam interagir com o CEO do CCEI Daegu, principal parceiro do Creative Startups na Coreia do Sul, cujo apoio já trouxe diversos resultados importantes para o Programa no Brasil.
O encontro também se traduziu em nova perspectiva para a iniciativa de incubação cruzada entre as startups brasileiras e as sul-coreanas, e os gestores de incubação. A 3ª incubação cruzada deve acontecer no segundo semestre deste ano, com patrocínio da Samsung.
O vídeo da primeira edição do Creative Startups Talks pode ser conferido, na íntegra, na página da Anprotec no Facebook.
Estímulo à agenda nacional de inovação
Ao longo da programação do Creative Startups Talks, os participantes tiveram a oportunidade de conhecer mais sobre a atuação do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) na agenda de inovação do país; sobre as iniciativas da Anprotec no apoio às entidades promotoras de empreendimentos inovadores; sobre os resultados já alcançados com o Programa Creative Startups nas perspectivas da Anprotec e da Samsung; e sobre a experiência sul-coreana em economia criativa e o Daegu Samsung Creative Campus.
O coordenador de programas do Sebrae, Krishna Faria, abriu as atividades do evento com uma apresentação sobre ações do Sebrae de estímulo à inovação no país. Segundo ele, hoje, a entidade dispõe de três instrumentos de fomento a projetos empresariais de inovação, que integram o Programa Inovação nos Pequenos Negócios: o Edital Sebrae de Inovação, o Edital Senai, e o contrato com a Embrapii (Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), por meio do qual o Sebrae subsidia a parte da pequena empresa para o desenvolvimento de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).
Além dessas iniciativas, Faria citou o apoio ao programa InovAtiva Brasil, de aceleração de startups, e o Capital Empreendedor, que visa conectar empresas inovadoras com investidores. Por fim, falou sobre as quase três décadas de trabalho com a Anprotec e dos mais de 10 convênios já celebrados com a Associação.
Essa trajetória teve, de acordo com ele, três momentos principais. Inicialmente, a atuação conjunta era voltada a fomentar o surgimento de ambientes de inovação. Depois, veio a fase de estruturar um padrão para que esses ambientes pudessem prosperar, resultando no desenvolvimento da metodologia CERNE. Agora, o último convênio, é voltado a três públicos prioritários: corporate venture, empresas com potencial de alto impacto e negócios de impacto social.
Ao abordar a parceria com a Anprotec, Faria considerou que se trata de “um casamento muito feliz e oportuno”. E antes de passar a palavra ao presidente da Associação, José Alberto Sampaio Aranha, o coordenador de programas do Sebrae lembrou que “o movimento dos ambientes de inovação é rico, próspero, e precisa de atenção e dedicação especial”.
Startups e grandes corporações mais próximas
Lembrando que a missão da Anprotec é apoiar entidades promotoras de empreendimentos inovadores, Aranha afirmou que Associação deve atuar pelo sucesso de sua rede nacional – composta por parques científicos e tecnológicos, incubadoras, aceleradoras e coworkings – e de seu produto final, que são as próprias startups. “A Anprotec tem, hoje, dentro de seu âmbito, 10 mil startups. É muito importante saber o que pode ser apresentado para os programas das grandes corporações, fazer esse casamento: startup – grande empresa”, pontuou.
Neste sentido, a Associação desenvolve, conforme lembrou Aranha, iniciativas como o CERNE, as missões técnicas internacionais, programas de internacionalização – como o StartOut Brasil, realizado conjuntamente com o Sebrae, Apex-Brasil e os Ministérios das Relações Exteriores e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços –, além da Conferência Anprotec e do próprio Creative Startups.
Sobre essa última iniciativa, Aranha observou que “é interessante ver que a economia criativa, para nós no Brasil, tem uma conotação um pouco diferente da economia criativa da Coreia do Sul”.
Em consonância, a superintendente executiva da Anprotec, Sheila Pires, esclareceu que, no mundo todo, há um conceito de economia criativa muito ligada ao audiovisual, ao cinema, jogos, design e tudo aquilo que tem a ver com o lado mais criativo, de arte. Enquanto isso, na Coreia do Sul, eles adotam o termo “economia criativa” em um sentido mais amplo.
“Ela é convergente, disruptiva e abrange uma enorme gama de setores. Está muito atrelada à economia digital, embora não se restrinja a ela. Então, quando olhamos a economia criativa na Coreia, principalmente nos 19 Centros de Economia Criativa e Inovação, vemos essa convergência da economia digital com todos os outros setores, desde Agronegócio até Robótica”, exemplificou Sheila.
Segundo a superintendente executiva da Anprotec, foi com esse espírito e com essa visão mais ampla que o Creative Startups foi trazido para o Brasil em 2015. Na primeira rodada do Programa, foram apoiadas oito empresas, de vários setores – de jogos, orientadas para a questão do impacto social e com um viés digital muito grande – as quais contaram com o suporte de cinco incubadoras selecionadas. Na segunda rodada, foram 12 startups, também de diferentes setores e regiões do país, e 12 incubadoras. Agora, está em andamento a terceira rodada, com a participação de 13 startups e 10 incubadoras.
“Temos observado, desde a primeira rodada, que embora esse tema de impacto socioambiental não seja o grande foco do Programa, temos tido um número muito expressivo de empresas de alta tecnologia, que estão investindo muito em inovação, mas também com esse lado”, relatou Sheila. Segundo ela, isso acaba convergindo nas estratégias nas quais os parceiros principais estão envolvidos – como a Anprotec, o Sebrae e a Samsung – e trazendo parceiros como a Embrapa, o MCTIC, o MDIC e vários outros.
Na primeira rodada do Programa, destacou Aranha, “foram encontrados aplicativos muito interessantes que poderiam ser usados pela Samsung, mas não eram coisas muito profundas. Já na segunda rodada, três empreendimentos saíram com possibilidade de novos produtos e serviços para unidades da própria Samsung. Acho isso muito importante, que a grande empresa possa ter algo adicionado à sua estratégia e não simplesmente um produto adicional que entra ali”.
Englobando as ações do Creative Startups, a Anprotec está engajada no projeto de uma Corporate Innovation Network. De acordo com Aranha, trata-se de um “programa de corporações, voltado ao processo de conectar, prospectar, desenvolver e acelerar para as grandes empresas. É o programa que a gente já trabalha com a Samsung que será estendido para outras corporações”.
Nos próximos passos da Anprotec também está previsto um projeto, com um sócio-empresarial, de um centro internacional de negócios de inovação. “Um grande hub onde todas aquelas 10 mil startups estarão conectadas entre si e ligadas para que qualquer empresa, em qualquer lugar do mundo, possa descobrir o que existe de inovação sendo feito pelo Brasil, podendo negociar com ela, ir lá visitar e, assim, fazer com que nossa inovação comece a ser uma nova identidade em termos de imagem internacional”, adiantou Aranha sobre a iniciativa em andamento com a Apex-Brasil e o Ministério das Relações Exteriores.
Sucesso em números e cases
Criado em 2015 com a perspectiva de ir até 2020, o Creative Startups objetiva apoiar 50 empresas nesse período, com um investimento da ordem de 5 milhões de dólares. Até o momento, o Programa soma 20 startups aceleradas no Brasil e 13 ainda em processo de aceleração, totalizando 33 startups já apoiadas.
“Nós já investimos nesse Programa mais de 2 milhões de dólares via incentivo da Lei de Informática, já foram mais de 770 propostas recebidas a nível nacional. Foram 23 incubadoras pré-selecionadas e 4 startups brasileiras que já participaram do programa de cross incubation com a Coreia do Sul”, pontuou o Coordenador de Startups da Samsung Brasil, responsável pelo Creative Startups, Paulo Quirino, referindo-se às startups: Reminds, Mind the Graph, Meu Plano e Treevia Forest Technologies.
Conforme pontua Quirino, o Programa já alcançou resultados muito significativos, o que pode ser evidenciado com os casos da Oobj – fornecedora do software emissor de Documentos Fiscais Eletrônicos para grandes corporações e participante da primeira rodada do Creative Startups – e da Treevia, integrante da segunda rodada, que monitora ativos florestais por meio da integração entre sensores IoT e tablets, usando modernas técnicas de digitalização e gerenciamento de dados.
“A Oobj conseguiu fechar o ciclo de aceleração de produto com um nível de maturidade tão bom que, hoje, ela está dentro da carteira de prestadores de serviço da Samsung e por ter conseguido fechar esse serviço conosco, na sequência, fechou contrato com outras grandes empresas. Então, veja o quanto essa parceria com uma empresa grande consegue gerar – nesse modelo de corporate venture – de resultados para uma startup”, enfatizou Quirino.
Já a Treevia, durante seu processo de aceleração, conseguiu colocar seu produto para rodar dentro da área de P&D da Suzano Papel e Celulose. Além disso, conforme frisa Quirino, a startup que participou do programa de incubação cruzada na Coreia do Sul, hoje, está em negociação com uma grande empresa sul-coreana e acabou de lançar seu produto na maior feira florestal do mundo, em Santa Rita do Passa Quatro (SP), da qual foi participar com o contrato já assinado com a Samsung.
“A partir do momento que fizemos a segunda rodada e conseguimos fechar os contratos com essas duas startups, o departamento que gere todo esse Programa na Samsung passou a ser visto como um canal de abertura para startups dentro da própria empresa. Então, todos os departamentos vêm nos procurar, hoje, com demandas para serem buscadas no mercado, para as startups solucionarem. Esse é um resultado muito significativo para a Samsung, que também passa a ser vista pelo mercado e pelo ecossistema de startups de forma diferente”, avaliou Quirino.
O Programa, inclusive, já é reconhecido no Brasil como referência no modelo de Corporate Venture e no uso pioneiro da Lei de Informática, o que foi destacado pelo ministro Gilberto Kassab, do MCTIC, e pelo Secretário de Política de Informática do Ministério, Thiago Camargo, no BootCamp da terceira rodada do Creative Startups, em fevereiro deste ano. Os bons resultados, para o coordenador nacional do Creative Startups, só foram possíveis graças à parceria com a Anprotec e o CCEI Daegu.
“Na última chamada, nós tivemos em torno de 400 inscritos, dos quais participaram 73 municípios e 23 estados do Brasil. Essa capilaridade só é possível através da rede que a Anprotec hoje fornece, de parques tecnológicos e incubadoras. Além, é claro, de conseguir gerir esse programa, rodando simultaneamente, à distância, 10 incubadoras e 13 startups”, disse Paulo Quirino.
Já o CCEI Daegu, como lembra o executivo, tem sido um parceiro importante no apoio com metodologia e, principalmente, com a parte de incubação cruzada. E conforme apresentação do CEO do CCEI Daegu, Kyu Hwang Yeon – sobre o Daegu Samsung Creative Campus – a ideia é seguir investindo conjuntamente em incubação cruzada, mentorias, criação de pilotos, desenvolvimento de talentos e modelos de negócios.
Cooperação internacional
No Creative Startups Talks, Anprotec e o CCEI renovaram o Memorando de Entendimento assinado em setembro de 2015, prorrogando-o por mais três anos. “Esta renovação nos permitirá continuar com o intercâmbio das melhores práticas, equipes, estabelecimento de parcerias internacionais e a promoção do programa de incubação cruzada, conduzindo startups brasileiras para a Coreia do Sul e recebendo startups sul-coreanas no Brasil”, frisa o consultor de projetos da Anprotec, Luís Gustavo Peles.
O outro Memorando de Entendimento assinado na ocasião prevê a potencialização de ações voltadas para a internacionalização de empresas, dentro do programa de incubação cruzada. “Esta expansão da cooperação permitirá e facilitará que as startups brasileiras recebam aporte financeiro de investidores-anjo na Coreia do Sul, incrementando ainda mais os benefícios disponíveis para as startups selecionadas no Batch 4 do Creative Startups, que tem previsão de ser publicada em maio”, destaca Peles.
Sobre o Creative Startups
Resultado de uma parceria inédita entre o setor privado, as redes nacionais de inovação e o setor governamental, o Programa tornou-se um caso de sucesso em escala nacional e referência na relação entre grandes e pequenas empresas para o desenvolvimento de empreendimentos inovadores e startups intensivas em conhecimento.
Além disso, o programa permite que grandes empresas utilizem alternativas viáveis de financiamento e mecanismos de fomento à inovação, como a Lei de Informática, um modelo de referência testado e validado para adoção e aplicabilidade de Fundos Setoriais e investimentos diretos de grandes e médias empresas no Brasil.