Especialistas de São Paulo e Paraná compartilham experiências de governança em ambientes como parques, incubadoras e hubs, com foco em programas que aproximam oferta e demanda tecnológica
Foz do Iguaçu (PR), 13 de outubro de 2025 – O Workshop “Liderança Colaborativa em Ambientes de Inovação: Estratégias para Conectar Pessoas, Ideias e Resultados”, realizado nesta segunda-feira (13) durante a 35ª Conferência Anprotec, reuniu gestores de ciência e tecnologia para debater mecanismos de engajamento coletivo e governança em ecossistemas de inovação. Moderado por Cesar Rissete, diretor técnico do Sebrae-PR, o painel contou com as participações de Aldo Nelson Bona, secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, e Carlos Américo Pacheco, ex-diretor-presidente da FAPESP (2016-2025). O debate focou na urgência de superar o distanciamento histórico entre academia e setor produtivo no Brasil, país que figura como 13º em produção científica global, mas apenas 52º em inovação aplicada.
Rissete abriu o workshop contextualizando estudos desenvolvidos pelo Sebrae sobre o papel da liderança em ambientes de inovação. “O painel vem estudando como a liderança pode contribuir para que os ambientes promotores de inovação façam com que a inovação de fato aconteça na nossa sociedade, através de um movimento de integração entre os atores que consigam promover a inovação a partir da ciência e da tecnologia”, afirmou o moderador.
Paraná: de 18 a 490 ambientes credenciados em sete anos
Aldo Nelson Bona apresentou a trajetória paranaense de expansão e qualificação de ambientes de inovação. Em 2017, o estado iniciou a organização do Separtec (Sistema Estadual de Ambientes Promotores de Inovação do Paraná), identificando apenas 18 iniciativas autoproclamadas como “parques tecnológicos”. A partir de 2019, o governo estadual adotou uma estratégia de credenciamento progressivo que expandiu esse número para mais de 490 ambientes.
Para apoiar essa expansão, o governo criou mecanismos de fomento com uma regra estratégica: ambientes vinculados a Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) receberam recursos diretos, enquanto os não vinculados precisaram se associar a uma ICT para acessar o financiamento. Bona explicou a lógica dessa exigência: os parques tecnológicos ajudam as ICTs a expandirem sua atuação para além dos muros acadêmicos, enquanto as ICTs fornecem a base de conhecimento para os parques.
O secretário também mencionou uma estratégia informal de benchmarking que denominou “Adoção Por Inveja”, baseada na premissa de que quando um grupo empresarial vizinho tem sucesso na parceria com a universidade, outros também passam a buscar essas colaborações. Complementando a infraestrutura, o Paraná criou o programa Agentes Regionais de Inovação (ARI), profissionais alocados nos núcleos de inovação tecnológica das universidades estaduais com a missão de conectar pesquisas acadêmicas a demandas empresariais. O secretário foi direto: “Nós os contratamos para fazer o casamento entre oferta e demanda”.
O estado também implementou um programa de residência técnica para formação de gestores de ambientes de inovação, formando 30 profissionais ao exemplo da residência médica.
Liderança é capacidade de entusiasmar, não de mandar
Carlos Américo Pacheco trouxe uma perspectiva conceitual sobre a complexidade crescente dos ambientes de inovação. O ex-diretor da FAPESP observou que o trabalho com ambientes de inovação tornou-se muito mais complexo do que era há 15 ou 20 anos. Antes, limitava-se a parques tecnológicos e incubadoras. Hoje, a multiplicidade inclui parques científicos, distritos de inovação, aceleradoras e diversos outros formatos. O Sistema Paulista de Ambientes de Inovação (SPAI) já reúne quase 80 tipos diferentes de instituições, incluindo associados privados como Cubo e InovaBra.
Sobre perfil de liderança, Pacheco foi categórico: “Liderança é a pessoa com a habilidade e capacidade de entusiasmar as pessoas, trazer as pessoas. Não significa mandar. Não é ter a autoridade da caneta para mandar que faz com que uma pessoa seja líder. Simplesmente é a capacidade de motivá-las, de trazê-las para uma causa comum”.
O ex-diretor da FAPESP ilustrou com o exemplo do Programa Especial de Engenharia (PEE) do ITA em parceria com a Embraer, um mestrado profissional que forma engenheiros em 18 meses através de metodologias centradas em soft skills. Os participantes recebem bolsa mensal e trabalham em grupo, desenvolvendo habilidades de apresentação oral. Ao final do curso, dividem-se em equipes que competem projetando um avião completo. O projeto abrange não apenas engenharia técnica, mas também análise de mercado, número de assentos, custo por assento e viabilidade econômica da aeronave. Técnicas colaborativas podem ser ensinadas e treinadas através dessas metodologias, afirmou Pacheco.
Desafios da gestão: equipes, financiamento e estratégia
Bona apontou que gerir equipes é um dos maiores desafios, com atenção especial para manter o time motivado e evitar competitividades destrutivas entre setores. Sobre financiamento, o secretário relembrou que quando estava na gestão universitária, o maior desafio era ter recursos para pagar as contas, olhando para São Paulo e suas universidades estaduais que trabalham com previsibilidade e regras claras, como percentuais definidos do ICMS.
Pacheco acrescentou que a agenda de inovação é ampla e fica cada vez maior. Sem uma estratégia clara, gestores se perdem diante da multiplicidade de ações necessárias: empreendedorismo, mobilização de recursos financeiros, associação com empresas, startups em diversos estágios. Será cada vez maior a necessidade de mobilizar instrumentos financeiros novos, como equities, ventures e garantias. As universidades devem criar fundos de venture capital para suas startups, seguindo exemplos de Oxford e outras instituições internacionais.
Propriedade intelectual e internacionalização
Participantes questionaram como estabelecer confiança entre universidades e pequenas empresas, dado que empresários frequentemente receiam que a universidade se aproprie de conhecimentos técnicos. Pacheco sugeriu o uso de templates jurídicos pré-validados por procuradorias estaduais para agilizar acordos de confidencialidade e transferência de tecnologia. Bona trouxe abordagem pragmática: o estágio de desenvolvimento da tecnologia pela empresa determina a negociação de royalties, e o foco atual deve ser conquistar pessoas e empresas que demonstrem que esse caminho vale a pena.
O secretário também mencionou o programa PRIME (Das Primeiras Ideias ao Mercado), parceria entre a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Paraná e o Sebrae, que já resultou em 19 spin-offs. O programa oferece workshops, mentorias e financiamento para projetos selecionados em fase de desenvolvimento e validação de mercado.
Sobre a 35ª Conferência Anprotec
A 35ª Conferência Anprotec acontece de 13 a 16 de outubro de 2025 em Foz do Iguaçu (PR), com o tema “Ecossistemas colaborativos e integrados à inovação global”. O evento é promovido pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). A realização local é do Sistema Estadual de Ambientes Promotores de Inovação do Paraná (Separtec), da Fundação Araucária, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e do Governo do Estado do Paraná.