Foz do Iguaçu (PR), 14 de outubro de 2025 – A plenária “Parques Científicos e Inovação Tecnológica: Convergência entre Ambientes e Transformações Globais”, realizada no final da tarde desta terça-feira (14), debateu a consolidação dos parques tecnológicos como plataformas que articulam políticas públicas, formam talentos e impulsionam o desenvolvimento territorial. Mediada pela presidente da Anprotec, Adriana Ferreira de Faria, a discussão apresentou evidências científicas sobre o impacto dos parques na geração de patentes, modelos de gestão pública e privada, e o chamado efeito off-park sobre os territórios.
Participaram do debate Thiago Guerra, presidente da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Fundetec) de Cascavel (PR), Domingos Sávio Alcântara Machado, vice-presidente de Estratégia, Internacionalização e Inovação do Tiradentes Innovation Center de Aracaju (SE), e Alberto Albahari, professor associado da Universidade de Málaga (Espanha) e referência internacional em estudos econométricos sobre parques tecnológicos.
Adriana contextualizou a discussão a partir do marco legal brasileiro de ciência, tecnologia e inovação, citando a Lei 10.973, a Lei 13.243 e o Decreto 9.283, que classificam os ambientes promotores de inovação em áreas de inovação (parques tecnológicos, distritos e clusters) e mecanismos (incubadoras, aceleradoras e laboratórios abertos). “Essa nomenclatura busca alinhamento com a International Association of Science Parks and Areas of Innovation e reflete a necessidade de integração colaborativa entre os diferentes ambientes”, destacou.
Parque público como orquestrador da inovação municipal
Cascavel, município do Oeste do Paraná com 31 anos de tradição em gestão da inovação, exemplificou o modelo de parque público municipal. Thiago Guerra, físico com doutorado em Engenharia de Materiais pelo Instituto Militar de Engenharia, explicou que a Fundetec atua como secretaria municipal de inovação, sendo um dos dois parques de gestão pública entre os dez em operação no Paraná.
“Os parques públicos funcionam como grandes orquestradores de adoção tecnológica para o município e a região. Enquanto algumas instituições falam sempre em inovação como algo distante, nós fazemos a inovação chegar onde ela não chegaria se não fosse por meio do parque”, afirmou Guerra. O modelo público permite oferecer serviços gratuitos à população, como análises de água de unidades de saúde e cursos tecnológicos para jovens de 8 a 23 anos.
Instalado em área rural de aproximadamente 150 hectares, o parque abriga laboratórios de águas, alimentos e solos, além do Colégio Agrícola Municipal com regime de internato. Para aproximar-se do centro urbano, a Fundetec criou a Estação da Inovação Hub One no antigo terminal rodoviário, com coworking gratuito a 100 metros da prefeitura. Programas como Radar de Inovação e TCC Startup, finalistas do Prêmio Nacional Anprotec 2025, conectam universidades, empresas e produtores rurais.
Sergipe busca diversificar economia pós-petróleo com hub privado
Sergipe, o menor estado do Nordeste com apenas duas universidades, enfrenta o desafio de diversificar a economia após o declínio da produção de petróleo. Domingos Sávio Alcântara Machado apresentou o modelo de hub privado sem fins lucrativos criado há cinco anos pela Universidade Tiradentes em Aracaju.
“A missão principal do hub é traduzir as necessidades regionais em desafios tecnológicos e oportunidades de negócio, fazendo com que o talento sergipano permaneça em Sergipe e que possamos atrair novos talentos para a região Nordeste”, explicou Domingos. O gestor defendeu que os parques devem ser pontes entre educação e inovação, utilizando tecnologias habilitadoras como inteligência artificial, computação em nuvem, 5G, 6G, internet das coisas e blockchain para conectar ecossistemas regionais a redes globais.
O hub estabeleceu parcerias com empresas como AWS, Fortinet, Google e Porto Digital para capacitação, utilizando metodologia do MIT para incubação e aceleração. Entre os destaques estão iniciativas em saúde digital com aplicação de inteligência artificial. O Instituto de Pesquisa da Universidade Tiradentes mantém portfólio de patentes e figura entre os maiores depositantes do Nordeste.
Estudo espanhol comprova: parques geram 73% mais patentes em 15 anos
Alberto Albahari apresentou evidências científicas sobre a eficácia dos parques como políticas públicas. Com 15 anos de pesquisa sobre o tema, o professor explicou que a literatura acadêmica apresenta resultados contraditórios porque muitos estudos utilizam modelos estatísticos inadequados e amostras pequenas.
“A pergunta que sempre me fazem é: os parques realmente funcionam? A resposta é sim. Utilizando dados de painel e o modelo econométrico Differences in Differences, encontramos que províncias espanholas com parques tecnológicos registraram 43% mais patentes no período de 6 a 10 anos após a implantação do parque, e 73% mais patentes entre 11 e 15 anos”, afirmou Albahari. O pesquisador destacou que 57% desse efeito é gerado por empresas localizadas fora dos limites físicos dos parques, comprovando o efeito off-park sobre o território.
A Espanha conta com 53 parques tecnológicos em operação, reunindo aproximadamente 5.900 empresas e cerca de 150 mil trabalhadores, sendo mais de 34 mil em pesquisa e desenvolvimento. Albahari identificou três fatores críticos para o sucesso espanhol: a massa crítica de parques distribuídos por todas as regiões, a articulação da Associação Espanhola de Parques Científicos e Tecnológicos como interlocutora do governo central, e bases de dados robustas de pesquisas nacionais de inovação que permitem avaliações rigorosas.
“Os parques são investimentos de baixo custo comparados a outros incentivos governamentais, altamente visíveis politicamente e com retorno comprovado, especialmente quando localizados em regiões menos desenvolvidas”, concluiu Albahari.
Parques brasileiros faturam R$ 15 bilhões e geram 75 mil empregos
O Brasil conta com 64 parques em operação e 42 em implantação, com distribuição assimétrica que reflete desigualdades regionais históricas. A maioria está no interior, cumprindo papel de plataforma de desenvolvimento territorial em cidades médias.
Atualmente, 2.706 empresas estão vinculadas aos parques, com faturamento anual estimado em R$ 15 bilhões, pagamento de mais de R$ 1 bilhão em impostos e geração de 75 mil empregos qualificados. Os investimentos acumulados somam aproximadamente R$ 14 bilhões, sendo R$ 3 bilhões em subvenções e o restante majoritariamente de governos estaduais, que respondem por 50% dos aportes.
“Se isso não é uma política pública de primeira qualidade, barata, com retorno praticamente garantido e com impactos que demonstramos claramente, não sei o que é. Precisamos mostrar esses dados para aqueles que fazem políticas públicas nos nossos territórios, nos estados e em nível federal”, enfatizou Adriana. A maioria dos parques brasileiros tem menos de 50 empresas e idade média de 12 anos, indicando que o ecossistema ainda está em consolidação, mas já apresenta resultados mensuráveis.
A presidente concluiu reforçando que os parques têm incorporado tecnologias como inteligência artificial, 6G e internet das coisas, conectando ecossistemas regionais a redes globais. Adriana defendeu que os dados brasileiros, embora ainda não analisados com a mesma sofisticação econométrica dos estudos espanhóis, apontam na mesma direção: parques tecnológicos são investimentos públicos de alta taxa de retorno com impacto territorial comprovado.
Sobre a 35ª Conferência Anprotec
A 35ª Conferência Anprotec acontece de 13 a 16 de outubro de 2025 em Foz do Iguaçu (PR), com o tema “Ecossistemas colaborativos e integrados à inovação global”. O evento é promovido pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). A realização local é do Sistema Estadual de Ambientes Promotores de Inovação do Paraná (Separtec), da Fundação Araucária, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e do Governo do Estado do Paraná.