Foz do Iguaçu (PR), 14 de outubro de 2025 – O painel temático “Inovação Colaborativa: Transformando Desafios Globais em Oportunidades Locais”, realizado nesta terça-feira durante a 35ª Conferência Anprotec, reuniu líderes dos principais ecossistemas de inovação do país para discutir estratégias que conectam redes, competências e tecnologias diante de desafios como mudanças climáticas, transição energética, segurança alimentar e saúde pública.
O encontro contou com a participação de Jorge Audy, superintendente de Inovação e Desenvolvimento do Parque Científico e Tecnológico da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Tecnopuc/PUCRS); Maria Angélica Oliveira Luqueze, coordenadora de Relações com o Mercado e pesquisadora em parcerias estratégicas do Supera Parque da Universidade de São Paulo (USP); e Romildo Toledo, diretor do Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor de Relações Internacionais da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).
Conexão, colaboração e impacto territorial
A conversa guiou-se por três eixos centrais apontados por Audy: a colaboração entre universidades, empresas, governos e sociedade civil; a articulação territorial e global; e a geração de impacto social no território. O superintendente do Tecnopuc, que atuou na diretoria internacional da International Association of Science Parks and Areas of Innovation (IASP) até 2024, lembrou que os parques científicos existem como ambientes colaborativos desde a criação do Stanford Research Park, em 1951.
Para Audy, “colaboração é a nossa essência desde Stanford, conexão é sermos janela para o mundo, mas o maior desafio é articular o ecossistema de forma a gerar impacto direto na comunidade. Ao rompermos nosso ambiente habitual, confrontamo-nos com uma realidade social muito mais complexa.”
Citando uma experiência em Porto Alegre, ele destacou que um projeto de parque tecnológico de semicondutores perdeu apoio popular diante de demandas básicas da população por infraestrutura urbana, realçando que inovação social tem peso tão significativo quanto o surgimento de startups unicórnio.
Soluções práticas e parcerias globais
Romildo Toledo contextualizou os desafios globais, estimando em 23 trilhões de dólares o custo para mitigar questões como o aquecimento global, eventos extremos, desigualdade crescente e riscos pandêmicos. O diretor do Parque da UFRJ ressaltou que 70% dos jovens acreditam que o futuro será menos promissor que o presente, o que reforça a urgência da adoção de soluções baseadas em economia circular e energias renováveis.
No ambiente do Parque Tecnológico da UFRJ, desenvolvem-se tecnologias de micro e nanofiltração para água potável, pesquisas em fertilizantes com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), um projeto de captura de CO2 da Petrobras avaliado em US$ 1,2 bilhão, além de experimentos com energia eólica offshore e iniciativas em bioeconomia conduzidas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Segundo Toledo, mais de 40% das startups do agronegócio estão sediadas em São Paulo, concentração que restringe a distribuição dos benefícios da inovação. Ele destacou a importância de levar essas soluções tecnológicas para outras regiões do país, como Ceará e Santa Catarina, a fim de fortalecer a articulação entre os ecossistemas regionais e ampliar o alcance dos impactos positivos.
Ainda no debate, foi ressaltada a necessidade de sistematizar a cooperação acadêmica e tecnológica em escala global, com destaque para o modelo chinês que integra cerca de 500 mil startups ativas em projetos inovadores. O Parque da UFRJ anunciará em breve uma assessoria internacional para fomentar parcerias com países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Maria Angélica Luqueze apresentou a estrutura do Supera Parque, que ocupa 400 mil metros quadrados cedidos pela USP em Ribeirão Preto. O local é composto por quatro pilares: incubadora de deep techs, condomínio de inovação, programa de inovação aplicada para empresas e o Health to Business Center, financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), cujo lançamento está previsto para 2026 com foco no conceito One Health.
Segundo Luqueze, “os desafios enfrentados por nossos vizinhos são os mesmos vividos aqui. Portanto, soluções brasileiras têm potencial para alcançar o mercado global. Exemplos de empresas do Supera exportando para China, Canadá e Suíça comprovam essa capacidade.”
Inovação social e interação com o público
Durante o painel aberto às perguntas e à participação do público, Juliana Zardo, representante da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), apresentou o Parque de Inovação Social, Ambiental e Tecnológica (PISTA) da Rocinha. A iniciativa foi impulsionada por um edital da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), que destinou nove milhões de reais para mais de 20 projetos, posteriormente ampliados para quarenta milhões com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Romildo Toledo complementou com relatos da organização Redes da Maré, no maior complexo de favelas do Rio de Janeiro, que abriga cerca de 140 mil pessoas. O Parque da UFRJ colabora como parceiro em soluções surgidas nas demandas locais, incluindo iniciativas como a formalização de endereços postais, escola preparatória para vestibular e o programa Maré de Sabores, aprovado para financiamento de oito milhões de reais junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O encerramento ficou a cargo de Audy, que destacou a importância do equilíbrio entre inovação tecnológica e social para ampliar a percepção do papel dos ecossistemas. “Talvez, no fundo, esta seja a razão pela qual todos nós estamos aqui. Talvez a inovação sequer faça sentido se ela não se traduzir em melhoria da qualidade de vida das comunidades em que atuamos.”
Sobre a 35ª Conferência Anprotec
A 35ª Conferência Anprotec segue até 16 de outubro de 2025, em Foz do Iguaçu (PR), com o tema “Ecossistemas colaborativos e integrados à inovação global”. Promovido pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o evento tem realização local do Sistema Estadual de Ambientes Promotores de Inovação do Paraná (Separtec), Fundação Araucária, Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e Governo do Estado do Paraná.