



Workshop debate como modelo de gestão transforma incubadoras em catalisadoras de empreendedorismo inovador no Brasil
Foz do Iguaçu – PR, 15 de outubro de 2025 – A certificação CERNE (Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos) consolidou-se como muito mais do que um simples selo de qualidade para incubadoras brasileiras. Durante o Workshop 4 da 35ª Conferência Anprotec, realizado na manhã desta quarta-feira (15) em Foz do Iguaçu, gestores de ambientes de inovação demonstraram como o modelo, quando aplicado estrategicamente, transforma não apenas processos internos, mas reconfigura ecossistemas inteiros de empreendedorismo e inovação.
Sob o tema “Inovação colaborativa e Certificação CERNE: fomentando ecossistemas de inovação globalmente integrados”, o painel moderado por Adriana Ferreira de Faria, presidente da Anprotec, reuniu vozes representativas do ecossistema nacional para discutir os impactos tangíveis da certificação sobre a governança, a gestão da inovação e a articulação entre os diversos atores que compõem as redes de apoio ao empreendedorismo. Segundo Adriana, o CERNE é hoje uma das principais ferramentas de fortalecimento da governança e da sustentabilidade dos ambientes de inovação, por oferecer uma metodologia de gestão que profissionaliza as incubadoras e amplia sua capacidade de gerar negócios inovadores e de impacto.
Para Marcio, a certificação CERNE atuou diretamente nessa iniciativa, ao oferecer ambientes mais preparados para receber pesquisadores e desenvolver projetos complexos, colaborando para conectar incubadoras e facilitando a identificação de empresas aptas a receber bolsistas e recursos. Essa visão reforça o papel do modelo como um indicador de maturidade institucional que aproxima universidades, agências de fomento, pesquisadores e empresas.
O contexto apresentado pelo CNPq é revelador de um desafio estrutural brasileiro. Enquanto o país ocupa a 13ª posição no ranking mundial de produção científica, figura apenas na 49ª posição em inovação. Em países referência, como China, Alemanha e Coreia do Sul, mais de 50% dos doutores trabalham em empresas; no Brasil, esse percentual não chega a 20%. É nesse vácuo que incubadoras certificadas pelo CERNE podem atuar como pontes estruturantes entre o conhecimento científico e a inovação de mercado.
O modelo CERNE está estruturado em quatro níveis crescentes de maturidade, sendo que cada nível é acumulativo — para implementar o CERNE 2, a incubadora precisa ter implantado as práticas do CERNE 1; para o CERNE 3, são necessários os níveis 1 e 2; e assim sucessivamente. Essa arquitetura escalonada reflete a compreensão de que a maturidade organizacional é construída de forma progressiva e contínua.
Jucelia ressaltou ainda que o processo não é cíclico, mas dialético: cada nível agrega novas dimensões sem abandonar as anteriores. No CERNE 4, por exemplo, a instituição atinge maturidade para atuar em redes globais e promover a internacionalização de suas empresas associadas. Segundo a gestora, a certificação máxima “não é um ponto de chegada, mas a consolidação de uma cultura viva de melhoria contínua que se renova a cada ciclo”.
Wilmar destacou que a certificação precisa ser encarada como um processo de transformação, e não apenas como um selo. “Não se pode olhar o processo de certificação apenas por certificar; é necessário mudar a visão com relação a crescimento e futuro.” Sua fala sintetiza a essência do modelo: a certificação é um meio para construir capacidade institucional, integrando pessoas, processos e propósito.
Flaviano destacou o papel do CERNE durante a pandemia de COVID-19, período em que muitas incubadoras precisaram digitalizar seus processos de forma acelerada. Ele lembrou que “um dos propósitos do CERNE é sistematizar boas práticas, e isso é essencial para crescer”, ressaltando que a estrutura metodológica do modelo permitiu às instituições adaptar-se rapidamente sem perder qualidade ou coerência.
Essa visão reforça um ponto importante: é a estrutura que permite flexibilidade. Em ambientes de alta volatilidade, a sistematização oferece a base necessária para inovar com agilidade e segurança. Incubadoras sem processos claros enfrentam dificuldades não apenas para escalar, mas também para se reinventar diante de novos desafios.
Recentemente, o Metrópole Parque, do Instituto Metrópole Digital da UFRN, tornou-se a primeira incubadora do Norte, Nordeste e Centro-Oeste a conquistar o CERNE 4, rompendo uma concentração que até então existia exclusivamente nas regiões Sul e Sudeste. Para Adriana Faria, “essa conquista simboliza a capilarização do modelo e mostra que a excelência em gestão de ambientes de inovação não é privilégio geográfico, mas resultado de comprometimento institucional”.
A conexão do CERNE com programas como o RHAE do CNPq ilustra essa dimensão sistêmica: incubadoras certificadas tornam-se nós estratégicos em redes que conectam pesquisa universitária, talentos qualificados, recursos financeiros e demandas empresariais. A sistematização de processos facilita não apenas a gestão interna, mas também a comunicação e a cooperação entre instituições heterogêneas.
Em um cenário global onde inovação aberta e colaboração interinstitucional definem vantagens competitivas, a capacidade de operar segundo padrões reconhecidos torna-se ativo estratégico. O CERNE, ao estabelecer uma linguagem comum e referências compartilhadas, cria condições para que incubadoras brasileiras dialoguem de igual para igual com ambientes de inovação de outras regiões do mundo.
Os relatos apresentados no Workshop 4 demonstram que o Brasil dispõe não apenas de um modelo robusto de gestão de incubadoras, mas de uma metodologia que pode ser referência internacional. A certificação CERNE emerge, portanto, como muito mais do que ferramenta de gestão — ela representa uma estratégia nacional de qualificação dos ambientes de inovação, essencial para que o país converta sua capacidade científica em impacto econômico e social concreto.
Sobre a 35ª Conferência Anprotec
A 35ª Conferência Anprotec acontece de 13 a 16 de outubro de 2025, em Foz do Iguaçu (PR), com o tema “Ecossistemas colaborativos e integrados à inovação global”. Promovido pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o evento tem realização local do Sistema Estadual de Ambientes Promotores de Inovação do Paraná (Separtec), Fundação Araucária, Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e Governo do Estado do Paraná.