O painel temático 4 – “Colaboração Transnacional: O Caso da Fronteira Brasil, Argentina e Paraguai”, realizado nesta terça-feira durante a 35ª Conferência Anprotec, reuniu pesquisadores acadêmicos, empreendedores e gestores públicos para discutir temas centrais para o fortalecimento da cooperação transnacional na região da tríplice fronteira, com foco em inovação e desenvolvimento regional.
O painel contou com a presença de Jamur Johnas Marchi, da UNILA – Brasil, Jerry Adriani Johann, Coordenador do Núcleo de Geotecnologias e Ciência de Dados (Núcleo GeoScience), Ezequiel Mesquita, CEO do Parque de Innovación de Buenos Aires, e Hernán Schaefer Czeraniuk, Diretor de Comunicação do Complexo Educacional da UNAE. Reunindo perspectivas acadêmicas e institucionais dos três países, o encontro buscou debater como a cooperação transfronteiriça pode se consolidar como um eixo de desenvolvimento humano e sustentável na região da Tríplice Fronteira.
Em sua fala inicial, Jamur Marchi destacou a mudança de visão sobre as fronteiras: historicamente percebidas como espaços de separação e conflito, elas hoje precisam ser vistas como lugares de integração e oportunidade. A partir da experiência da UNILA, ressaltou a importância de pensar a fronteira de forma conjunta, considerando não apenas o uso cotidiano das comunidades locais, mas também os desafios da governança, que muitas vezes está nas mãos de instituições distantes.
Marchi citou ainda a necessidade de superar desigualdades sociais, insegurança e degradação ambiental, reforçando que o desenvolvimento almejado deve ser humano e sustentável. “Precisamos responder: quem usa e quem controla a fronteira? A fronteira deve ser um bem comum, gerido de forma colaborativa, e não apenas controlado por autoridades distantes da realidade local”, afirmou.
Jerry Johann trouxe a perspectiva do estado do Paraná e das universidades brasileiras na articulação de projetos de pesquisa e inovação. Ele pontuou que programas como o NAPI Internacional, articulados pela Fundação Araucária, demonstram como a integração acadêmica e científica pode fortalecer soluções conjuntas para problemas regionais.
Johann ressaltou que a fronteira deve ser entendida como espaço estratégico para a inovação, não apenas como barreira geográfica. “A região da Tríplice Fronteira tem potencial enorme para se tornar um laboratório vivo de inovação territorial, conectando pesquisa aplicada, empreendedorismo e desenvolvimento sustentável”, destacou.
Representando a Argentina, Ezequiel Mesquita compartilhou a experiência do Parque de Innovación de Buenos Aires, uma iniciativa pública que transformou terras subutilizadas em um polo de inovação urbana. Com mais de 190 mil m² dedicados à tecnologia, saúde, educação e clima, o parque articula universidades públicas e privadas, empresas, startups e governo em um modelo de governança de quádrupla hélice.
Mesquita apresentou iniciativas de colaboração com instituições do Brasil e do Paraguai, mostrando que é possível construir redes sólidas de pesquisa e desenvolvimento tecnológico além das fronteiras. Segundo ele, a chave está em criar ecossistemas de inovação abertos, que permitam o diálogo entre governos, universidades e empresas em escala internacional.
“Buenos Aires é hoje capital do talento e da inovação na América Latina. Queremos exportar esse modelo colaborativo para regiões como a Tríplice Fronteira, potencializando negócios, educação e sustentabilidade”, afirmou Mesquita. Ele destacou ainda que o parque já integra redes internacionais como a Innovation Districts Alliance e a IASP (International Association of Science Parks and Areas of Innovation), posicionando-se como referência global em distritos de inovação.
Por fim, Hernán Schaefer Czeraniuk, do Paraguai, ressaltou o papel da comunicação e da educação no fortalecimento da cooperação transnacional. Ele destacou a importância de iniciativas conjuntas no campo educacional, como jornadas e programas de pedagogia de fronteira, que aproximam estudantes, professores e pesquisadores.
Czeraniuk também mencionou o trabalho do Centro SBDC Encarnación, que utiliza a metodologia dos Small Business Development Centers para fortalecer micro e pequenas empresas na região. Com foco em diagnóstico territorial, formalização, inovação e digitalização, o centro atende empreendedores do Paraguai e países vizinhos, moldando a atividade comercial transfronteiriça e promovendo a formalização empresarial.
“Para Hernán, a integração não deve ser apenas institucional, mas também cultural, aproximando comunidades e promovendo uma identidade regional compartilhada. ‘O comércio representa 95% da economia de Encarnación. Por isso, nosso trabalho busca profissionalizar esse setor, conectando-o com redes de desenvolvimento e inovação'”, explicou.
O painel evidenciou que, embora a Tríplice Fronteira enfrente desafios como desigualdade social, insegurança e dependência econômica de setores tradicionais, também se configura como um terreno fértil para iniciativas inovadoras. A cooperação transnacional, quando estruturada em torno de governança colaborativa e ecossistemas integrados, pode transformar a região em referência de desenvolvimento sustentável.
Entre as oportunidades destacadas, os painelistas apontaram:
O diálogo entre Brasil, Argentina e Paraguai apontou para a necessidade de fortalecer ecossistemas de cooperação, ampliar redes de governança e transformar a fronteira em espaço de oportunidades, consolidando-a como referência em desenvolvimento humano e sustentável.
A 35ª Conferência Anprotec segue até 16 de outubro de 2025, em Foz do Iguaçu (PR), com o tema “Ecossistemas colaborativos e integrados à inovação global”. Promovido pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o evento tem realização local do Sistema Estadual de Ambientes Promotores de Inovação do Paraná (Separtec), Fundação Araucária, Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e Governo do Estado do Paraná.