Na tarde do dia 24, a Conferência Anprotec 2020 apresentou ao público a Oficina de Financiamento, conduzida pelo superintendente executivo da Associação, Guila Calheiros. Durante o painel, o executivo discutiu caminhos para superar os desafios da manutenção da sustentabilidade financeira dos ambientes promotores de inovação, com foco especial no desenho de estratégias para diversificar a receita a partir de novos modelos de negócio e fontes de recurso.
“Ao longo do ano, tivemos doze AnproTalks, três AnproTalks Cafés, além de termos conduzido uma pesquisa qualificada com os nossos associados. Todos esses materiais propiciaram à Anprotec uma percepção aprofundada dos desafios pelos quais passam os ambientes de inovação e serviram de base para este workshop”, explicou Guila.
A pandemia causada pelo Covid-19, como em todos os setores da sociedade, afetou de forma profunda os ambientes de inovação como parques tecnológicos, incubadoras, aceleradoras, hubs de inovação e coworkings. “Logo de cara, temos o desafio de que muitos destes ambientes têm como uma de suas principais fontes de receita o recurso imobiliário, proveniente da ocupação de seus espaços”, apontou.O esvaziamento dos espaços intensificou a luta pela sustentabilidade financeira dos ambientes de inovação não só pela perda de receita, mas também pela forma como essa nova dinâmica afeta um dos principais atrativos destes mecanismos: o de proverem espaços de encontro, diálogo, mentoria e ebulição de ideias, fundamentais para que a inovação ocorra.
“Para enfrentar o esvaziamento, os ambientes precisam mapear novas formas de interação com as empresas inovadoras, criando um novo portfólio de serviços. Da mesma forma, é preciso mudar mindset com relação à captação de recursos. Oportunidades com entidades privadas e captação de recursos internacionais são ações que precisam ser mapeadas”, enfatizou.
Guila apresentou um framework para a captação de recursos que se inicia com uma reflexão sobre a estratégia organizacional, que deve ser norteada por propósito, valores e princípios, alicerçados em metas e ações. “Esses pilares servirão para que o ambiente desenhe um portfólio de projetos com objetivos e entregáveis claros”, explicou.
Com esse portfólio de projetos ideais em mãos, Guila aconselha que cada organização aponte em seu organograma um responsável pela captação de recursos, que deverá prospectar de forma ativa fontes de recursos em chamadas abertas, bem como articular com entidades de fomento a criação de editais alinhados com seus projetos-alvo, conduzindo um esforço de captação direta e ativa de recursos.
“O leque de captação de recursos é grande, incluindo o orçamento direto de entidades mantenedoras, programas governamentais, emendas parlamentares, fundos públicos, agências de fomento, ações de responsabilidade social de empresas, órgãos internacionais, bem como fundos e fundações privadas nacionais e internacionais”, detalhou.
Além da captação de recurso em entidades, agências de fomento e fundos, o executivo apontou a diversificação de serviços como uma alternativa importante para a sustentabilidade financeira dos ambientes de inovação. “Programas de inovação aberta conduzidos em parceria com governo, academia e empresas, criação de produtos e serviços digitais, além da participação em empreendimentos e projetos imobiliários podem criar novos fluxos de receita”, exemplificou.
A etapa final da Oficina teve foco no Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, que incluiu pela primeira vez a palavra inovação na Constituição Brasileira, estabelecendo como missão do poder público o seu fortalecimento, bem como “a constituição e a manutenção de parques e polos tecnológicos e de demais ambientes promotores da inovação”, conforme texto do artigo 219, do Decreto No. 9.283 de 2018.
“Está no bojo da lei, então temos que provocar o poder público a sua aplicação”, ressaltou Guila. Para o superintendente, o Marco apresenta muitas oportunidades para os ambientes de inovação, já que eles podem atender o poder público na criação e gestão de ambientes promotores de inovação, bem como atender a sociedade na resolução de seus problemas, através de encomendas tecnológicas. “Os ambientes de inovação podem atuar para solucionar problemas apresentados pelo poder público de forma inovadora, criando soluções que não existem no mercado. O Marco Legal permite que o Estado, agora, possa adquirir essas inovações”, finalizou.