Painel de encerramento do evento contou com a presença de Sir Ronald Cohen, pioneiro na indústria de venture capital e considerado o papa dos investimentos de impacto.
A 30ª Conferência Anprotec reuniu, ao longo de três dias, mais de 750 participantes, representantes de mais de 200 ambientes de inovação, como parques tecnológicos, incubadoras, aceleradoras, coworkings e hubs, além de representantes do governo, agências de fomentos e investidores. Foram 65 palestrantes, que trataram do tema “Ambientes de Inovação 4.0 – Desafios e Oportunidades na Nova Dinâmica Global”, distribuídos em mais de 20 painéis sobre tendências, oficinas práticas e apresentação de trabalhos.
Fernanda Bombardi, Gerente Executiva do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), foi a moderadora do painel de encerramento, que se iniciou com o depoimento de Sir Ronald Cohen. O britânico é considerado um dos pais do investimento em venture capital no Reino Unido, tendo fundado, ainda em 1972, a Apax Ventures, que investiu em empresas como a AOL, Virgin e PPL Therapeutics, que foi responsável pelo clone da ovelha Dolly, em 1996. No início dos anos 2000, Sir Cohen deixou a Apax para assumir o comando do Global Steering Group for Impact Investment, que sucedeu a Força Tarefa de Investimentos de Impacto do G8, além de ser o cofundador do The Portland Trust, Social Finance UK, US e Israel, Bridges Fund Management UK, US e Israel e da Big Society Capital.
“Estou convicto de que os negócios de impacto estão se tornando o mainstream. O mundo está compreendendo que as empresas não podem operar mais em modelos de negócio que causem danos sociais e ambientais, esperando que apenas os seus impostos compensem esses problemas”, disse Sir Cohen, na abertura de sua fala. Ele foi um dos líderes de um estudo conduzido pelo Global Steering Group for Impact Investment, em parceria com a Universidade de Harvard, que avaliou financeiramente o impacto de mais de 1800 empresas, que, segundo o documento, alcançaram a casa de US$ 3 trilhões. “25% das empresas geram mais impacto ambiental e social do que lucro”, apontou.
Sir Cohen defende que os relatórios financeiros das empresas passem a contabilizar tais impactos, apresentando a chamada “contabilidade de impacto”. “Estamos em um momento singular, devido à pandemia, em que os governos aumentaram os seus débitos e a pobreza cresceu rapidamente. Sozinhos, eles não conseguirão resolver esses problemas e precisam trazer as empresas ao seu lado para enfrentar esses desafios. É algo semelhante ao New Deal, proposto pelo governo americano em 1930, após o crash da bolsa em 1929” argumentou. Para ele, agora, a pandemia de covid-19 servirá como um catalisador para os negócios de impacto.
“Os direcionadores de mercado estão mudando. As empresas estão percebendo que não adianta performar bem, sem fazer o bem. A sociedade está exigindo isso. Precisamos continuar medindo o impacto em cada negócio, em cada investimento e em cada política pública que criamos. A ‘mão invisível do mercado’ precisa se tornar o ‘coração invisível do mercado’”, disse Sir Cohen, reformulando o termo cunhado por Adam Smith, no século XVIII, no clássico “A riqueza das nações”.
O painel de encerramento do evento continuou com Célia Cruz, diretora executiva do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE). Em consonância com Cohen, para ela, a pandemia também deve acelerar a tendência dos negócios de impacto. “Antes da covid, vivíamos em um mundo que tinha 700 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. Nesse ano, estimativas apontam que esse número deve crescer em mais 500 milhões”, apontou.
A executiva apresentou dados de um estudo que será lançado pela Aliança Pelos Investimentos e Negócios de Impacto, na qual também atua como diretora executiva, e que aponta o crescimento do movimento no país. “Há cinco anos, tínhamos apenas três fundos atuando nessa área. Hoje, são 25. Em 2015, podíamos contar nos dedos os ambientes de inovação que tratavam do tema. Em 2020, já temos mais 80 mapeados”, disse. Para ela, a temática de negócios de impacto representa uma mudança de mindset. “São negócios que nascem para resolver problemas sociais e ambientais, ou seja, essa é a sua principal atividade”, definiu.
Jorge Audy, superintendente de inovação e desenvolvimento da PUC-RS e ex-presidente e conselheiro da Anprotec, foi de encontro à Célia. “Antes de me aprofundar nesse tema, pensava que um negócio de impacto era qualquer um que produzisse algo que gerasse um bem a sociedade, como uma startup que trabalha com vacinas, por exemplo. Com o meu aprofundamento na temática, entendi que um negócio de impacto social e ambiental é aquele que já nasce com o propósito de resolver um problema social ou ambiental. É uma nova forma de pensar”.
Aproximando a temática aos ambientes de inovação, Audy conclama que os ambientes de inovação precisam revisitar seus propósitos e trazerem para suas startups o objetivo de gerar impacto social e ambiental em seus negócios. “A pandemia acelerou tendências como a educação à distância, digitalização, comércio eletrônico, além de enaltecer o papel da ciência. Seja para o bem ou para mal, nunca se falou tanto em ciência. No entanto, a covid-19 também aumentou as desigualdades. Então, é cada vez mais urgente que os ambientes de inovação e suas empresas atuem na resolução destes problemas”, explicou
Daniel Liepnitz, vice-presidente da Anprotec e presidente do conselho da Acate, fez o encerramento do painel e da Conferência Anprotec 2020, ressaltando a temática do painel. “Precisamos provocar o poder público a criar métricas que avaliem o impacto social e ambiental dos negócios, incentivando cada vez mais aqueles que têm um balanço positivo nesse aspecto. A mensagem que fica é que precisamos mudar nossos parâmetros daqui para a frente”, ressaltou, em harmonia com os demais painelistas.
Como mensagem de encerramento do evento, Daniel agradeceu aos participantes, palestrantes, ao Sebrae e à Reginp pela correalização, aos apoiadores estratégicos, aos organizadores, à equipe da Anprotec e o comitê estratégico do evento. “Que possamos levar da Conferência 2020 uma mensagem de resiliência, energia, propósito e coração para cada um dos ambientes de inovação ligados à Anprotec. É nossa missão transformar o Brasil em um lugar melhor, mais inovador, sustentável, inclusivo e colaborativo”, finalizou.