O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) segue atuando em diferentes linhas de enfrentamento ao novo coronavírus (Covid-19). Centenas de pesquisadores espalhados pelo país realizam seus estudos, financiados pelo ministério, com o objetivo, não apenas de encontrar a cura, mas também de frear e diminuir os danos em diversas áreas causados pela doença no mundo inteiro. Uma dessas frentes de combate é a Rede Clima MCTIC, que por meio de suas sub-redes, Saúde e Economia, estão produzindo um estudo sobre os principais impactos do Covid-19 em suas áreas. A intenção é que o resultado dessas pesquisas possa auxiliar na tomada de decisões para políticas públicas.
A equipe responsável pelo estudo no setor da saúde trabalha desde meados de abril para coletar dados públicos, referentes ao Covid-19. A ideia é estruturar um banco de dados com informações totais por estado brasileiro disponibilizando conteúdo específico por faixa etária, comorbidades por Covid-19, número de leitos disponíveis, testes realizados, número de hospitalizados e óbitos. Também serão feitas projeções dos cenários de progressão do coronavírus e avaliação dos possíveis impactos à saúde no Brasil como, por exemplo, a previsão de picos máximos de casos e mortes ao longo das próximas semanas e o comportamento de uma segunda onda de expansão do Covid-19. No momento, essas projeções estão em desenvolvimento.
“A rápida resposta às solicitações do MCTIC foi possível devido ao comprometimento da Rede Clima com o desenvolvimento de inovações na área de Ciência e Tecnologia e da Fiocruz no atendimento das prioridades do governo federal em relação a pandemia do Covid-19”, afirmou a pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública ENSP/Fiocruz, Sandra Hacon que é a coordenadora da sub-rede Saúde.
Sub-rede Economia
A interdependência setorial e regional dos impactos econômicos através de um modelo interestadual de insumo-produto para o Brasil é a linha da pesquisa na área de economia. O modelo econômico do estudo já foi escolhido e agora a equipe está estimando os custos diários para diversos cenários de isolamento. O objetivo do estudo é calcular e mapear os impactos econômicos de medidas de prevenção relacionadas à pandemia do coronavírus. Desta forma, será possível avaliar os setores e regiões do país mais vulneráveis. Isso será importante para avaliar cenários de flexibilização das medidas de controle, tão logo os órgãos da saúde definam a data e os locais que poderão voltar às atividades. As principais perguntas a serem respondidas são: Quais os custos econômicos diários de cenários de isolamento e distanciamento social? Quais os setores de atividade mais vulneráveis economicamente? Quais os estados e regiões mais vulneráveis economicamente?
O coordenador da sub-rede Economia, Eduardo Haddad, que é pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) explica que a principal variável de ligação entre o modelo econômico e os cenários epidemiológicos é o grau de isolamento social em cada região. Se por um lado um maior grau de isolamento impõe custos econômicos com a interrupção parcial de algumas atividades, por outro achata a curva de contaminação e salva vidas. “Em nossa modelagem, levaremos em conta todos estes aspectos, bem como os efeitos sobre o sistema de saúde”, adianta.
Na segunda etapa do estudo, os pesquisadores farão uma avaliação dos impactos econômicos das políticas de natureza compensatória que se colocam. Como por exemplo, políticas de transferência de renda a trabalhadores informais e medidas de auxílio do governo federal aos estados.
A equipe de pesquisadores também fará análises dos custos de diferentes estratégias de isolamento e distanciamento social. Haddad exemplifica a metodologia da pesquisa com os dados do dia 13 de abril (Fonte: Inloco) em que o índice de isolamento variou bastante entre os estados (de 35% da população no Tocantins, a 56% no DF) o custo estimado de perda de PIB nacional foi de cerca de R$13 bilhões o que equivale a 0,21% do PIB nacional em 2019, ano pré-crise. Em termos regionais, Roraima teria sido o estado relativamente menos afetado naquele dia (-0,14% do PIB estadual) e Pernambuco o mais afetado (-0,23%).
A terceira e última etapa dos estudos consiste na projeção dos impactos de longo prazo na economia brasileira (mercado de trabalho, produtividade, perda de renda, desemprego, capacidade produtiva, investimento público e privado), para posterior identificação de políticas públicas para recuperação socioeconômica da pandemia no longo prazo.
Segundo Haddad, a principal dificuldade no desenvolvimento deste trabalho está ligada à luta contra o tempo. “Temos que trabalhar dentro dos limites do possível, com as ferramentas que dispomos, adaptando-as de forma criativa. Felizmente, há um estoque de conhecimento acumulado nos últimos anos que nos dá segurança para encarar da melhor maneira os desafios que nos foram apresentados”, finalizou.
Rede Clima MCTIC
Criada em 2007 para desenvolver pesquisas na área de mudanças climáticas, a Rede foi acionada pela excelência de suas instituições e pesquisadores, além da experiência em modelagem integrada e capacidade de rápida resposta. “A manutenção de um corpo de cientistas atualizados e ativos é absolutamente necessária para qualquer nação, e a Rede Clima é um exemplo de sucesso dessa estratégia em nosso país”, afirmou o pesquisador Moacyr Araújo (UFPE), coordenador da Rede.
O pacote de prioridades anunciado pelo Ministério inclui: a criação da Rede Vírus; uma Chamada Pública em parceria com o Ministério da Saúde lançada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); e um conjunto de encomendas de pesquisas para grupos com reconhecida competência em áreas científicas relacionadas com o combate à pandemia.
Fonte: MCTIC