O Brasil é o maior produtor de lixo eletrônico na América Latina, segundo o estudo Global E-Waste Monitor 2017, da ONU. Por ano, descartamos 1,5 mil toneladas de lixo eletrônico, o que nos torna também o 7º país que mais joga fora esse tipo de material. Mas uma iniciativa começou em Porto Alegre (RS) recentemente com o objetivo de diminuir esses números.
O Zenit, Parque Científico e Tecnológico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), conta agora com um Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC). Além de diminuir o descarte de eletrônicos, a ideia é capacitar jovens em situação de vulnerabilidade social para que desenvolvam trabalhos relacionados à tecnologia. “O projeto estimula a atitude empreendedora e mostra diferentes oportunidades de vida”, afirma Marcelo Lubaszewski, diretor do Zenit e coordenador do CRC.
O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) convidou a entidade para participar do programa nacional de CRCs e a iniciativa começou no dia 25 de março, após três meses de preparação. A previsão é que o projeto dure dois anos e seja o primeiro passo de uma série de iniciativas similares que promovam impacto social.
Centros de recondicionamento
O conceito de um centro de recondicionamento de computadores tem origem em países como Estados Unidos e Alemanha, explica Lubaszewski. São pequenas “fábricas” que recebem um número de máquinas que não estão funcionando e, por meio da troca de peças entre elas, produz-se outro equipamento que funciona perfeitamente. “Aqui, para quatro máquinas que não funcionam, garantimos que será produzido um equipamento em perfeito estado. O restante do lixo eletrônico é descartado da maneira correta, sem impacto ambiental”, afirma o diretor do Zenit.
Lubaszewski explica que enquanto no exterior os CRCs são um negócio, aqui no Brasil, têm outras dimensões. A primeira, de caráter social, é promover a doação dos computadores gerados pelo projeto a bibliotecas ou locais que promovam inclusão digital, além de permitir que os alunos do Centro entrem em contato com a tecnologia e possam ter uma formação profissionalizante a partir desse trabalho.
A segunda dimensão, segundo ele, é ambiental ao diminuírem o desperdício do que seria jogado fora. “Mesmo o que não utilizamos, descartamos adequadamente ou fornecemos para empresas especializadas transformarem em outros objetos, como telhas, pisos, metais, etc.”, explica.
Impacto Social
O Parque Tecnológico da UFRGS foi escolhido para trazer impacto social para jovens em situação de vulnerabilidade social em locais como o bairro do Belém Novo. A estrutura necessária para montar um CRC demanda um espaço climatizado para armazenar computadores e uma pequena linha de produção, além das salas de aula.
“Também capacitamos os instrutores para dar aulas que sejam sempre com a mão na massa, não apenas aulas teóricas e convencionais”, revela o diretor. O CRC fará três encontros semanais com duração de três horas cada, durante aproximadamente dois meses.
A meta estabelecida com o Ministério é formar ao menos 400 jovens, trabalhar com 4800 máquinas, entregar 1200 computadores funcionando perfeitamente e descartar corretamente os outros 3600 equipamentos.
Para Lubaszewski, o projeto foi construído para ter vida longa e se autossustentar, principalmente por meio de parcerias. O intuito é ser o pontapé inicial para outros projetos, como startups ou cooperativas em áreas como economia criativa e tecnologia que promovam transformação social e façam do lixo eletrônico uma oportunidade de geração de renda para as comunidades.
“A cereja do bolo é a promoção da atitude empreendedora dos jovens que buscam um futuro melhor, aumentando sua empregabilidade e dando a chance de que criem seus próprios negócios e resolvam os problemas sociais de onde vivem. Devagarzinho, podemos mudar a sociedade e por isso, acreditamos muito nesse projeto”, finaliza.