Com o objetivo de fomentar e fortalecer a cooperação bilateral entre o Brasil e a União Europeia, o INCOBRA lançou em setembro do ano passado uma chamada para a constituição e o fortalecimento de cinco redes de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) entre atores e organizações do Brasil e União Europeia. As redes foram selecionadas de acordo com critérios previstos em edital, e o resultado foi divulgado em março deste ano. Ao todo, foram enviadas 157 propostas, entre elas, 119 foram consideradas elegíveis para financiamento e entraram no processo de avaliação. Dentre as propostas elegíveis, 39 passaram para a segunda etapa.
Os nomes das redes e suas respectivas temáticas são: STI-net Brasil-UE – rede de infecções sexualmente transmissíveis; PEARL – estimação precisa de posição para aplicações em tempo real em latitudes brasileiras; NANO-NOCMAT – princípios de nanotecnologia aplicados a resíduos e subprodutos agroindustriais para o aprimoramento do desempenho de materiais não convencionais e habitações sustentáveis; NIUMAR – rede de mobilidade urbana inteligente e pesquisa sobre acessibilidade; e BMMO – rede sobre micróbios benéficos oriundos de organismos marinhos.
As cinco redes selecionadas estão recebendo do projeto INCOBRA mentoria e diversos serviços de consultoria, de acordo com a necessidades apresentadas por cada rede. Além disso, elas foram beneficiadas com subsídio no valor total de 19.500 € para o custeio da organização de eventos, reuniões de trabalho e despesas de viagem de seus representantes.
Além do apoio econômico cedido por meio dos recursos não reembolsáveis, as redes selecionadas são orientadas e estimuladas a definirem, no escopo de suas atividades colaborativas, agendas e prioridades comuns em PD&I, bem como ações que prevejam sua sustentabilidade por meio da elaboração e futura implementação de projetos que garantam a continuidade das iniciativas conjuntas em seus setores.
As redes iniciaram seu trabalho há mais de cinco meses e muito já se avançou na aplicação dos planos de ações desenvolvidos pelos seus grupos de trabalho. Confira abaixo os eventos organizados e as principais realizações de cada uma das redes.
1 – STI-net Brasil-União Europeia – Rede de Infecções Sexualmente Transmissíveis
A rede STI-Net tem como objetivo geral formar uma aliança entre redes existentes e organizações parceiras adicionais na UE e no Brasil que incorporem funcionários-chave de disciplinas de saúde pública e de clínicas acadêmicas e laboratoriais envolvidas em doenças sexualmente transmissíveis (DST) e resistência antimicrobiana (RAM).
Foram realizados três encontros até o momento, sendo um no Brasil, no Instituto de Medicina Tropical, na Universidade de São Paulo, que contou com 19 apresentações e quatro sessões de discussão e do onde definiram-se temas prioritários em Pesquisa e Inovação (P&I) e financiamento. O segundo evento consistiu na realização de Workshop de três dias em Londres. Os participantes visitaram duas instituições que ofertam serviços em PD&I: Dean Street Express e ClinicQ, com o objetivo de identificar potenciais serviços e desenvolvimentos a serem ofertados ao Brasil.
Além disso, o Workshop também permitiu a descrição e especificação de amostras de patógenos e plataformas de diagnóstico para cultura e testes moleculares; identificação de importantes lacunas na pesquisa; e a definição de pacotes-chave de trabalho para a busca de financiamento a questões de pesquisa. Por fim, a Rede também organizou reunião com representantes da Organização Mundial de Saúde em DSTs e RAM para discutir o escopo e as oportunidades de expansão da STI-Net, bem como a importância de estabelecer uma colaboração global em RAM.
As atividades permitiram desenvolver soluções com potencial de gerar impactos para melhoria da prestação de cuidados de saúde através da implementação de modelos de serviços inovadores, oportunos e rentáveis; melhor detecção e tratamento de DSTs através do estabelecimento de sistemas avançados de testes; e uma resposta global mais eficaz para combater DSTs através do estabelecimento de sistemas de vigilância sustentáveis e responsivos.
A troca de experiência entre os membros da rede tem um papel importante na busca de soluções para DSTs e RAM, como destaca Maria Luiza Bazzo, da Universidade Federal de Santa Catarina, “A reunião em São Paulo foi uma ótima oportunidade para conhecer todo o grupo e aprender com a expertise de cada um. Tantas ideias e desafios para fazermos um trabalho melhor. O grupo da Inglaterra foi muito especial, trazendo para nós um trabalho muito avançado em todas as disciplinas. É muito difícil encontrar uma maneira de melhorar e sustentar nosso trabalho no Brasil. Gostei muito de conhecer o trabalho que está sendo feito na USP e na UnB, junto com do Ministério da Saúde, que conheço um pouco mais.”
As instituições participantes dessa rede são:
2 – PEARL – Estimação precisa de posição para aplicações em tempo real em latitudes brasileiras
O principal objetivo da rede PEARL é desenvolver soluções em Sistemas de Satélite para Navegação Global com vistas à precisão, ao mapeamento e ao levantamento topográfico para aprimorar a agricultura de precisão e minimizar o impacto ambiental, a exemplo do uso de fertilizantes e da qualidade do ar.
A rede realizou diversas atividades com foco no desenvolvimento de projetos que visam impulsionar o potencial da agricultura de satélite no Brasil. Dentre elas, a organização do evento de três dias em São Paulo. Os dois primeiros dias foram dedicados apenas às discussões de trabalho entre os integrantes da rede. Já no terceiro organizou-se um workshop envolvendo importantes atores do agronegócio, como John Deere e Topcon. Na ocasião, a PEARL apresentou suas ideias para realizar pesquisas colaborativas em satélite de alta precisão.
Através dos debates oportunizados pelos encontros, a rede PEARL realizou a demonstração de um serviço que pode funcionar em qualquer região propensa a perturbações ionosféricas que, assim como no Brasil, também afeta outras partes do mundo, como Sul da China, Índia, Indonésia, Malásia, promovendo assim a indústria da UE e brasileira para o mercado global de aplicações.
Um dos membros da rede, Márcio Aquino, professor associado da Faculdade de Engenharia do Instituto Geoespacial de Nottingham, reconhece o papel do INCOBRA no apoio ao desenvolvimento de diversas áreas em CT&I. “O projeto oferece uma grande oportunidade de tornar possível iniciativas que podem levar vantagem de colaborações existentes ou novas em pesquisa, em particular, apoiando uma abordagem para que qualquer campo possa ser financiado.”
Já para Sreeja Veettil, coordenador do Treasure do Instituto Geoespacial de Nottingham, “O workshop no Brasil foi um excelente fórum para expor as ideias existentes para apoiar a agricultura de precisão no país e discutir novas que possam vir a ser implementadas em futuras atividades de pesquisa colaborativa, potencialmente financiadas por projetos com a UE. ”
As instituições participantes da PEARL são:
3 – NANO NOCMAT – Princípios de nanotecnologia aplicados a resíduos e subprodutos agroindustriais para o aprimoramento do desempenho de materiais não convencionais e habitações sustentáveis
O objetivo da rede está focado nos princípios básicos da nanotecnologia em associação aos recursos locais e ao desperdício agroindustrial, buscando soluções construtivas de alto desempenho, mais sustentáveis e duráveis, bem como a filtragem de membranas para a purificação do ar e da água.
Cinco atividades foram promovidas pelo grupo, entre reuniões presenciais e virtuais de trabalho, workshops realizados na Espanha e no Brasil, e capacitação, com a finalidade de definir temas prioritários, atrair potenciais parceiros e discutir os interesses da rede. Além disso, o workshop realizado Pirassununga (São Paulo) contou com atividades paralelas com especialistas em materiais de construção alternativos, e minicursos com temas relacionados à nanotecnologia. Por fim, vale destacar a reunião realizada com representantes do Conselho Superior de Pesquisa Científica da Espanha (CSIC) para discutir temas de interesse e oportunidades de financiamento no escopo do H2020.
Para os integrantes da rede, as soluções desenvolvidas durante as reuniões impactam beneficamente a introdução dos princípios básicos da nanotecnologia, com resoluções construtivas de alto desempenho, assim como o aumento do conhecimento científico e técnico dos resíduos gerados em usinas de produção e biomassa, contribuindo com a formação de recursos humanos para pesquisa e inovação na indústria.
As instituições participantes dessa rede são:
4 – NIUMAR – Rede de Mobilidade Urbana Inteligente e Pesquisa sobre Acessibilidade
A NIUMAR tem como propósito fomentar a pesquisa sobre mobilidade urbana e acessibilidade no Brasil, além de promover a cooperação sustentável entre pesquisadores brasileiros e europeus na área de mobilidade urbana e inteligente.
Ao total, foram realizadas três reuniões com o objetivo de definir a agenda de pesquisa da rede, identificar tópicos específicos de pesquisa, tal como seu grau de interesse para cada parceiro e a possível colaboração entre eles, e discutir propostas de projetos de pesquisa que foram submetidas ao financiamento brasileiro.
Os encontros propiciaram a sensibilização dos pesquisadores brasileiros ao panorama da pesquisa europeia, especialmente em relação ao funcionamento do programa H2020, bem como ao fomento da colaboração entre pesquisadores do Brasil e da União Europeia, através do desenvolvimento de ações e propostas conjuntas.
Como resultado das reuniões, é possível destacar quatro potenciais impactos gerados pela rede, sendo eles o estabelecimento de uma agenda mais forte para a pesquisa sobre acessibilidade e mobilidade urbana no Brasil; a contribuição para o desenvolvimento de um processo de planejamento urbano e de tomada de decisão mais inteligente; a divulgação da agenda de pesquisa brasileira na Europa e vice-versa; e a identificação e o desenvolvimento de uma lista de oportunidades para novas ações conjuntas e projetos de pesquisa colaborativos.
As instituições participantes dessa rede são:
5 – BMMO – Rede sobre micróbios benéficos oriundos de organismos marinhos
A rede de cooperativas BMMO teve como objetivo permitir aos seus membros a integração de dados e a combinação de esforços para promover e coordenar pesquisas integrativas sobre o desenvolvimento de estratégias eficientes e seguras para proteger organismos marinhos e recifes de coral.
Diversas atividades foram empregadas nos últimos meses. Os integrantes da rede elaboraram e submeteram uma proposta de pesquisa para financiamento, elaboraram artigos científicos a respeito das diretrizes e perspectivas de aprimoramento do campo de estudo, e realizaram dois workshops: o primeiro, realizado na Alemanha, foi dedicado a planejar e definir as etapas futuras. Já o segundo foi organizado no Rio de Janeiro e focou no monitoramento das ações implementadas e em garantir as entregas previstas.
Os pesquisadores relataram que o trabalho em rede permitiu a identificação de novas oportunidades de pesquisa, a complementação de competências e saberes, e o intercâmbio de experiências que permitiram compartilhar protocolos e conhecimentos, desenvolver soluções conjuntas para facilitar o uso de probióticos marinhos e, por fim, disseminar o conhecimento adquirido.
Já Raquel Peixoto, coordenadora do BMMO, salientou a importância do projeto INCOBRA ao desenvolvimento científico no Brasil. “É difícil encontrar financiamento para reunir grupos diversificados e mistos de pesquisadores, por isso, essa chamada foi extremamente valiosa para nós, cientistas, mas também para a nossa área de estudo, à medida que ela ganha impacto.”
As instituições participantes dessa rede são: