O presidente da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater), Pedro Arraes, encerrou o Fórum Sebrae de Inovação – Smart Farm, no primeiro dia da Conferência Anprotec 2018 (17/09), em Goiania-GO, com a palestra “Futuro Agro no mundo: perspectivas e disrupções”. Durante o painel, Arraes abordou as principais mudanças, expectativas e consequências que podem impactar positivamente o agronegócio no Brasil e no mundo.
O agronegócio tem um papel fundamental na indústria brasileira, o PIB do setor tem apresentado resultados crescentes nos últimos anos, e, em 2017, teve um aumento de 7,6%. Já neste ano, a previsão é de crescimento em 3,4%, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.
A tecnologia está cada vez mais presente nas atividades do setor. Com as ferramentas disponíveis atualmente, é possível coletar dados importantes para otimizar o desempenho, aumentar a produtividade, e diminuir perdas e desperdícios.
No entanto, mesmo com essas importantes mudanças impactando positivamente o cenário do agronegócio, ainda há muito a se explorar neste campo. Arraes citou em seu discurso algumas das barreiras que prejudicam a evolução. “O agronegócio engloba muitas camadas da sociedade, e, por conta disso, alguns fatores ainda são obstáculos para o setor. Aquecimento global, aumento constante da população mundial e a migração em massa para os centros urbanos têm consequências consideráveis nas indústrias agro”, afirmou o presidente da Emater.
A presença de ferramentas inovadoras nos trabalhos rurais é consequência de uma nova revolução industrial, a denominada “Indústria 4.0”. O termo é tema de diversas discussões atuais em praticamente todos os setores da indústria. No agronegócio, um dos principais pontos que transformaram o trabalho no campo foi a possibilidade de obter informações referentes às plantações, aos animais, à qualidade do solo, e à umidade do ar. Através destes dados são gerados temas para pesquisas com foco no desenvolvimento de ferramentas inovadoras que contribuam com a evolução do agronegócio.
A pesquisa e o desenvolvimento têm um papel fundamental no progresso do agronegócio. Os métodos científicos devem ser utilizados como balizador para a tomada de decisões, e para adoção de melhores práticas e soluções. Neste sentido, deve ser estimulado o P&D de longo prazo para solucionar problemas mais complexos. O grande desafio é conseguir priorizar as soluções emergentes e, simultaneamente, desenvolver estudos focados em temas abstratos que demandam mais tempo.
A Indústria 4.0 impacta o agronegócio em áreas como microbiomas, edição genética, energia alternativa, agricultura de precisão, e manejo do solo. Utilizando a edição genética como exemplo, estima-se que se 10 a 15% dos atores do agronegócio adotarem as transformações genéticas, o que engloba de 60 a 100 milhões de agricultores, o aumento da produção será de 100 a 400 milhões de dólares.
Sobre esses impactos, Arraes destacou os resultados provenientes desses recursos em locais que já utilizam essas práticas. “As tecnologias devem estar presentes em todas as fazendas, e seus benefícios devem ser demonstrados. Hoje, muita gente que mora em centros urbanos não conhecem o cenário do agronegócio. O cultivo protegido, por exemplo. Na Holanda se produz 90kg de tomate por metro quadrado, enquanto em Goiás, maior produtor do agronegócio brasileiro este número é de 9kg por metro quadrado. O Brasil utiliza muito pouco o cultivo protegido, e isso, com certeza, influencia nos resultados”. Arraes ainda ressaltou o papel das transformações genéticas nesse sentido. “As rupturas na biologia molecular não precisam, necessariamente, ser alvo de polêmicas. Por meio desta prática, é possível corrigir DNA e reduzir, ou até eliminar pestes em animais e plantas. Não podemos ter ideologias nesta área, temos que ser pragmáticos, o mercado é local e global ao mesmo tempo, e para nós é importante os dois, pois só exportamos 20% de tudo que produzimos”, finalizou Arraes.