O sistema de saúde brasileiro sofre há alguns anos com a precarização, e os custos disso são altos. O Brasil é, atualmente, o 4º país com maiores gastos em saúde, e a conta não para de aumentar. É necessária uma transformação no setor, e ela pode não estar tão longe. A tendência é que ela venha de dentro de pequenas – mas poderosas – empresas, as startups.
Em sua apresentação no Minicurso Gerando Negócios Inovadores na área de Saúde, no primeiro dia da Conferencia Anprotec (17/09), Alexandre Pino, coordenador do Programa de Engenharia Biomédica da Coppe/UFRJ, trouxe números que explicam as oportunidades que o Brasil perde por não investir em um setor que precisa de melhorias urgentes, entre elas o fato de importar muito, inclusive insumos básicos, o que faz com que tudo seja muito mais caro.
“A forma como nosso sistema de saúde se mantém hoje é insustentável. A indústria brasileira precisa de uma injeção de ânimo, porque somos deficitários na balança comercial em quase tudo que diz respeito à área da saúde. Dessa forma, o país não detém nem mesmo as tecnologias que usa e, se um dia não pudermos mais comprar de fora, como faremos? É importante desenvolver coisas aqui”, ressaltou.
Demandas e tendências
Mas não basta apenas produzir tecnologias como as que já existem. Para Pino, é preciso mudar a nossa relação com a saúde, que hoje se baseia em tratar, e não em prevenir. Recuperar a saúde é sempre mais caro.
Essa relação entre tratar e prevenir pode ser vista pelas startups como um desafio a ser resolvido. Hoje já existem projetos sendo desenvolvidos no exterior para que, antes mesmo de chegar a um hospital, o paciente possa realizar um autoatendimento em cabines, onde terá acesso a vários materiais para fazer o pré-atendimento junto a um profissional que estará o orientando de forma remota.
Esta ideia evita que os hospitais fiquem sempre lotados e que as pessoas cheguem já com problemas agravados, que custam muito mais para tratar. Mas, basta fazer uma análise básica pelo no sistema de saúde, tanto público, quanto privado, que é possível enxergar os desafios que poderão ser solucionados com tecnologias que já existem e são usadas para outras aplicações.
“Temos que usar essa tecnologia que chega via celular, computador, nuvem, para centralizar as informações. Muitas dessas tecnologias já estão disponíveis e são usadas em outras aplicações, banco, petróleo, energia, e podemos trazer essas coisas para saúde”, destacou Pina.
Para ele, algumas das grandes demandas do Brasil, hoje, que precisam de inovações para serem solucionadas ou melhoradas são:
A contribuição das Startups
Dentro das demandas do Brasil, é possível pensar em diversas inovações que podem ajudar na resolução desses problemas, e, ao mesmo tempo que gerar lucro. Um negócio inovador deve ser útil e solucionar um problema, mas é importante sempre pensar em como posicioná-lo no mercado.
Leopoldo Schipmann de Lima, Gerente de Inovação da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, conta que o hospital já trabalha com startups há alguns anos e aprendeu a desenvolver algumas coisas com elas e, com isso, hoje estão criando o que chamam de spin offs, que são iniciativas de inovação incentivadas por funcionários.
“Trabalhar com startups é uma ação complementar, mas nós entendemos que a pessoa que está no dia a dia, trabalhando com aquele processo, vai identificar mais facilmente falhas e melhorias, e isso pode virar um negócio. Não necessariamente uma startup atua com essa dor, porque ela não está dentro do processo, mas uma não exclui a outra”, explicou Schipmann.
Para trabalhar inovação dentro de uma corporação, segundo Schipmann, são necessários três fortes critérios: visão de longo prazo, porque a inovação não acontece rápido; alinhamento de interesse dos steakholders; e trabalhar incentivos.
Um dos cases de sucesso do hospital apresentados é de telemedicina. O projeto se desenvolveu dentro da diretoria de inovação e, há alguns anos, eram feitos poucos atendimentos, mas, hoje, isso expandiu e virou uma área de negócios dentro do hospital. Este ano já foram feitos cerca de 100 mil teleatendimentos.
Esta é uma das tendências globais que Pina apresentou e que as startups poderão atuar criando soluções para a saúde. Além da telemedicina, Pina elencou como tendências com espaço para startups de saúde as seguintes tecnologias:
Outro case que Schipmann citou foi o de um sistema de gestão de escalas médicas, que parece simples, mas tem um potencial de mercado grande e já está sendo usado em 150 hospitais brasileiros, podendo ser aplicado também para outras áreas, como redes de TV, infraestrutura entre outras. O sistema foi ideia de um dos médicos da instituição.
“A inovação só tem a contribuir. As pequenas empresas e startups, que são ágeis para criar soluções, terão papel fundamental, integrando informações, distribuindo melhor o acesso à prevenção, e inovando no pré-tratamento. Elas vão mudar esse cenário que temos hoje no sistema de saúde”, pontuou Pina.