A restrição de recursos para educação, ciência e tecnologia está levando o país à decadência, na avaliação de especialistas que participaram de audiência pública da Comissão Senado do Futuro, nesta segunda-feira (26). Para eles, um país sem ciência e tecnologia é um país que deu errado. O debate integrou o ciclo “2022: o Brasil que queremos”.
O professor da Universidade de São Paulo (USP) Sergio Mascarenhas criticou o corte de verbas para educação, ciência e tecnologia. “Chegamos a mandar 3 mil estudantes somente para a China. E fechamos o Ciência Sem Fronteiras apenas porque tinha alguns defeitos. Fechamos o programa por inteiro”, disse.
Mascarenhas afirmou que “povos sem ciência e tecnologia estão condenados a serem simples fornecedores de matérias-primas e de mão de obra barata para os países desenvolvidos”.
Já o professor Ildeu da Castro Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), lembrou que o Brasil em 2016 chegou a formar 20 mil doutores e 58 mil mestres.”Entretanto, estamos vivendo momentos difíceis com a contenção de recursos para os institutos e centros de pesquisas que foram criados desde 2002. Para uma comparação, a China está expandindo seus centros de difusão de ciência, como planetários e museus, enquanto o Brasil está fechando”, lamentou.
Moreira disse ainda que congelamento por 20 anos dos gastos na área da Ciência e Tecnologia, com a aprovação da Emenda Constitucional 95, é um desastre para o país. E voltou a comparar a situação brasileira com a chinesa. “A China criou um superministério da Ciência e da Tecnologia e nós fundimos o nosso com o ministério das Comunicações”, ressaltou.
O diretor do Museu da Amazônia (Musa), Enio Candotti, apontou para a necessidade específica de estudos científicos sobre a fauna e flora da Amazônia, pois lá se encontram formas de vida que possuem potenciais para a Medicina. “Se perdermos a batalha da Amazônia, perderemos nosso futuro”, advertiu.
O presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Mário Borges Neto, sustentou que, apesar dos cortes determinados pelo Ministério da Fazenda, os programas estão andando. Ele defendeu o não contingenciamento das verbas do Programa Nacional de Desenvolvimento de Ciência e Tecnologia, que são seguidamente retidos pela área econômica. Também defendeu que as dotações do Tesouro para a área, as chamadas “fontes 100”, não possam ser retidas pelo governo.
O presidente da Comissão Senado do Futuro, senador Hélio José (Pros-DF), lembrou que diversos cientistas brasileiros estão saindo do país por conta dos cortes de verbas para as pesquisas. Ele disse que há uma grande pressão dos banqueiros para que as verbas do Orçamento sejam direcionadas ao mercado financeiro.
Para Hélio José, é necessário trabalhar fortemente na Comissão Mista de Orçamento para que o dinheiro público seja corretamente destinado à ciência e à tecnologia.
*Fonte: Agência Senado