Encontro foi transmitido pela internet e pode ser conferido através do link: https://www.youtube.com/watch?v=7yznWKRdzDc
A Reunião Temática do Eixo 1 sobre “Ecossistemas de Inovação”, realizada na manhã de hoje, 8/12, como parte dos preparativos para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, destacou-se pela profundidade e variedade de perspectivas apresentadas. Organizado por Jorge Audy, Superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS e do Parque Científico e Tecnológico (Tecnopuc) e ex-presidente da Anprotec, o evento serviu como um fórum vital para discutir o papel da pós-graduação no fomento à inovação no Brasil.
Audy iniciou o encontro com uma visão clara: “Nosso objetivo é identificar temas-chave que moldarão a agenda da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em 2024. Este encontro é um passo crucial nessa jornada”, destacou.
Abrindo os trabalhos da sessão, o moderador, Rodrigo Quites Reis, diretor presidente do Parque Tecnológico Guamá, da Universidade Federal do Pará (UFPA), lançou questões pertinentes para orientar as discussões do painel: “Nosso desafio é entender como os programas de pós-graduação podem não apenas contribuir para a emergência de novas empresas, mas também como se integrar às já existentes. E nessas reflexões, considerar a diversidade do nosso país é fundamental.”
Romildo Toledo, diretor executivo do Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor eleito da Anprotec, expressou preocupação com a situação atual dos egressos de pós-graduação: “Enfrentamos um cenário onde 34% dos nossos mestres e doutores estão desempregados ou em empregos não relacionados à sua formação. Precisamos repensar nossas métricas de pós-graduação para integrá-los efetivamente aos ecossistemas de inovação”, explicou. O carioca ressaltou ainda que iniciativas como a Embrapii, que fomenta projetos de pesquisa e desenvolvimento na indústria, através de parcerias com centros de pesquisa, por exemplo, podem ser um caminho a se seguir. “Nas ciências agrícolas, a absorção dos mestres e doutores é muito maior e a Embrapa tem um papel fundamental nisso”, concluiu.
Já Adenilso Simão, docente da Universidade de São Paulo (USP), refletiu sobre a necessidade de equilibrar produção acadêmica com uma aplicação mais prática do conhecimento gerado. “Ao priorizarmos a produção de artigos, muitas vezes negligenciamos habilidades cruciais para nossos alunos. É hora de pensar em extrapolar os limites dos programas de pós-graduação, integrando-os mais estreitamente com incubadoras e parques tecnológicos”, argumentou. O professor encerrou sua fala provocando reflexões: “Hoje, se o resultado de uma pesquisa de doutorado em biotecnologia for uma startup bem sucedida, o aluno não conseguirá concluir sua tese. É isso que procuramos com os nossos programas de pós-graduação?”, questionou.
A professora da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás (UFG), Helena Carasek, abordou a conexão entre pós-graduação e inovação: “Devemos focar em preparar nossos estudantes para os desafios emergentes. A integração da pós-graduação com estruturas como parques tecnológicos e incubadoras é essencial.” A goiana trouxe o exemplo de um living lab criado em seu departamento, focado em soluções para a construção civil e que em três anos fez com que os alunos da universidade interagissem com mais de 70 empresas do setor. “É preciso trazer as corporações para dentro dos campi das nossas universidades”, pregou.
Já Luiz Curi, presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), centrou sua fala em diversos problemas estruturais da educação brasileira.”Ainda temos um milhão de crianças de quatro a sete anos fora da escola. Mais adiante, na passagem do ensino fundamental para o médio, perdemos 60% dos estudantes. Hoje, 25% das vagas disponibilizadas em universidades federais não são preenchidas. E, dos alunos que ingressam no ensino superior, poucos o concluem, com cursos que possuem taxa de evasão de até 60%. Precisamos reformar nosso sistema educacional como um todo, incluindo a pós-graduação, para enfrentar desafios como altas taxas de evasão e ociosidade de vagas nas universidades federais.”
Adriana Faria, diretora executiva do tecnoPARQ da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e presidente eleita da Anprotec, enfatizou a necessidade de maior integração entre o Ministério da Educação e os ambientes de inovação. “Grande parte dos ecossistemas de inovação do Brasil está vinculado às universidades, mas as incubadoras, os parques e as aceleradoras têm poucos elos com o MEC. Precisamos estreitar esse laço, trazendo a inovação para as métricas que mensuram as atividades de pós-graduação, por exemplo. Uma das grandes dificuldades hoje da incubadora da nossa universidade é ter empresas e projetos de qualidade. Temos estudos que mostram que pós-graduação é a principal fonte de potenciais empreendedores de base tecnológica”, afirmou.
Os inúmeros insights do evento, nas palavras de Rodrigo Reis, ressaltam a necessidade da continuidade do diálogo: “Este painel é apenas o começo. Vamos documentar e encaminhar todas as propostas valiosas discutidas aqui.” A fala teve consonância com a de Jorge Audy, que encerrou o evento destacando a riqueza das discussões: “Este debate enriquecedor e as contribuições do público são fundamentais para o futuro da inovação no Brasil.”
A Reunião Temática do Eixo 1 sobre “Ecossistemas de Inovação”, realizada na manhã de hoje, 8/12, como parte dos preparativos para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, foi organizada e sediada pela Universidade de São Paulo (USP), pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e teve como comissão organizadora: Jorge Audy (Coordenador, da PUCRS), Rodrigo Calado (USP), Adriana Faria (UFV), Chico Saboya (Anprotec e Embrapii), Adenilso Simão (USP), Sheila Pires (MCTI), Ado Jorio (UFMG), Romildo Toledo (UFRJ), Luciano Digiamepietri (USP), Rodrigo Reis (UFPA).