Encontro foi transmitido pela internet e pode ser conferido através do link: https://www.youtube.com/watch?v=7yznWKRdzDc
O segundo painel da Reunião Temática do Eixo 1 sobre “Ecossistemas de Inovação”, realizada na manhã de hoje, 8/12, como parte dos preparativos para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, teve como tema “Os Ecossistemas de Inovação, o Fomento e o Desenvolvimento Local e Nacional”. A ênfase na formação e retenção de talentos, integração entre diferentes setores e a necessidade de adaptação às realidades contemporâneas foram os principais tópicos do encontro.
Tony Chierighini, diretor executivo da incubadora Celta e da Fundação Certi, eleito também vice-presidente da Anprotec, ressaltou o aspecto propositivo do encontro. “Esta reunião é apenas o começo de um processo contínuo. Após este painel, vamos levantar os pontos discutidos, fazer a relatoria e encaminhar as propostas. É fundamental que continuemos este diálogo e trabalho conjunto”, disse ele. As propostas elaboradas no evento servirão como ponto de partida para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que será realizada em 2024.
Chico Saboya, presidente da Embrapii e da Anprotec, abriu as falas da mesa destacando a evolução da competitividade urbana. “No passado, as cidades se destacavam pelo acesso a terras e matérias-primas. Hoje, o diferencial é a inovação, englobando aspectos como infraestrutura urbana, logística, saneamento, empresas, instituições de ensino e pesquisa e, principalmente, a qualidade da sua mão-de-obra,” disse ele, que enfatizou a importância da atração e formação de talentos, um aspecto crítico para a competitividade e inovação.
Outro desafio mencionado por Saboya foi a gestão dos ambientes de inovação no contexto contemporâneo. “Como gerenciamos esses espaços de inovação que agora operam em três dimensões: casa, nuvem e escritório? Na minha visão, os gestores dos ambientes devem trabalhar com parques tecnológicos em rede, transformando diferentes espaços físicos em nós de redes interconectadas pelo próprio parque”, provocou.
Já o físico Ado Jorio, docente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), iniciou sua fala com uma observação positiva sobre a produção científica e tecnológica. “Temos visto um crescimento significativo em artigos, patentes e licenciamentos de tecnologia. Isso demonstra um potencial imenso no nosso ecossistema de inovação,” destacou. Contudo, Jorio também apontou para as deficiências existentes: “Apesar desse avanço, ainda enfrentamos um problema de subutilização das nossas estruturas de ensino. Temos recursos e capacidades que não estão sendo plenamente aproveitados.”
Ele ressaltou a necessidade de tornar os campos da ciência e tecnologia mais atraentes para os jovens. “Precisamos aumentar a atratividade dessas áreas, investindo em centros de formação de recursos humanos em áreas estratégicas,” sugeriu Jorio. Essa abordagem, segundo ele, deve incluir uma formação interdisciplinar focada na resolução de problemas, preparando os alunos para gerar novas tecnologias e negócios. Além disso, Ado Jorio enfatizou a importância do desenvolvimento estratégico de projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P,D&I). “É fundamental desenvolver esses projetos de maneira estratégica, visando a geração de spin-offs acadêmicas para acelerar a transferência do conhecimento para a sociedade,” ele explicou.
Guila Calheiros, secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) começou seu discurso enfatizando a natureza dos ecossistemas de inovação. “Um ecossistema de inovação é composto por instituições e pessoas, operando de forma dinâmica e fluida com agendas compartilhadas. Quando os atores desses sistemas – universidades, instituições de fomento, associações empresariais, governo e outros – têm uma agenda comum, eles compreendem melhor seu papel e contribuem de forma mais efetiva para o desenvolvimento regional,” explicou ele.
Ele também destacou a importância dos encontros e do espaço físico no contexto de inovação. “Embora hoje tenhamos um ambiente híbrido de trabalho, o encontro presencial e o adensamento ainda são fundamentais para a inovação. Parques tecnológicos, incubadoras, aceleradoras e hubs desempenham um papel crucial nesse sentido, fomentando a troca de ideias, o aprendizado e o crescimento,” disse Guila, complementando enfatizando a necessidade de conectar desafios locais aos ambientes de inovação. “Esses ambientes devem trabalhar como catalisadores de uma agenda compartilhada, unindo acadêmicos, empresários e governo. É uma questão de formar, atrair e reter capital humano, além de gerar marcos institucionais e legais,” explicou.
Falando sobre o papel do MCTI, Guila ressaltou a necessidade de articular sistemas nacionais e regionais para transformá-los em ecossistemas eficientes. “No MCTI, estamos trabalhando para estruturar esses sistemas, criando programas, políticas, ações e garantindo o financiamento necessário. No último ano, fizemos um adicional na chamada de parques tecnológicos e centros de inovação, e agora estamos discutindo novos programas, especialmente para incubadoras,” concluiu ele.
O pesquisador sênior do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), o biólogo Adalberto Luis Val, iniciou sua explanação destacando a importância das interações colaborativas para a inovação. “Nos ecossistemas de inovação, assim como na biologia, as interações entre diferentes agentes são cruciais para o desenvolvimento social, econômico e a conservação do ambiente,” ele afirmou.
Ele enfatizou a singularidade de cada ecossistema. “Assim como na biologia, onde não há dois ecossistemas iguais, o mesmo se aplica aos ecossistemas de inovação. Cada um tem suas peculiaridades e potenciais únicos,” disse Val. Ao falar sobre a Amazônia, ressaltou a necessidade de pensar em grande escala. “A Amazônia é maior que a Europa, e para entender seu potencial em bioeconomia, precisamos conhecer profundamente o ecossistema e como seus atores interagem,” ele explicou.
Val também enfatizou a necessidade de se fugir da homogeneização nas abordagens aos ecossistemas de inovação. “Precisamos evitar o regramento burocrático excessivo e encarar riscos para fomentar verdadeiramente a inovação,” argumentou. “Isso inclui repensar nossos investimentos, focando em investimentos estratégicos em vez de seguir apenas padrões históricos”, concluiu.
Já Francilene Garcia, diretora da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), docente da Universidade Federal de Campina Grande – PB (UFCG) e ex-presidente da Anprotec, começou sua fala refletindo sobre a repetição de desafios no campo da inovação. “Desde a primeira reunião do Conselho Nacional de C,T&I, enfrentamos desafios recorrentes. Falamos sobre fortalecer os ambientes regulatórios na quarta conferência, mas ainda há um longo caminho a percorrer para estabelecer políticas de estado de longo prazo,” observou.
Ela citou a bioeconomia como um exemplo-chave da necessidade de políticas de Estado mais perenes. “Trabalhar com biotecnologia, onde a inovação leva de 10 a 15 anos para se consolidar, é desafiador em um contexto em que as políticas mudam frequentemente. Precisamos de estabilidade para fomentar a inovação sustentável,” explicou.
O último participante da mesa foi Fábio Guedes, presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap). “A preocupação com o fomento do desenvolvimento em Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil ainda é grande. Atualmente, contamos principalmente com o FNDCT (Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia), mas isso é insuficiente para atender às necessidades emergentes no setor”, afirmou.
Guedes também enfatizou a preocupação com a redução do orçamento de instituições como o MCTI e a Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “Os recursos atuais do MCTI são baixos e não condizem com as demandas crescentes por inovação e desenvolvimento tecnológico no país. Além disso, é alarmante que a CAPES tenha perdido 17% do seu orçamento. Embora a bolsa de estudos não seja o único fator na retenção de talentos, ela é um aspecto crucial. Atualmente, enfrentamos um grande déficit de bolsas em comparação aos anos de 2013 e 2014”, concluiu.
A Reunião Temática do Eixo 1 sobre “Ecossistemas de Inovação”, realizada na manhã de hoje, 8/12, como parte dos preparativos para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, foi organizada e sediada pela Universidade de São Paulo (USP), pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e teve como comissão organizadora: Jorge Audy (Coordenador, da PUCRS), Rodrigo Calado (USP), Adriana Faria (UFV), Chico Saboya (Anprotec e Embrapii), Adenilso Simão (USP), Sheila Pires (MCTI), Ado Jorio (UFMG), Romildo Toledo (UFRJ), Luciano Digiamepietri (USP), Rodrigo Reis (UFPA).