Foz do Iguaçu (PR), 15 de outubro de 2025 – Um programa coordenado entre 2015 e 2020 pela Anprotec e Samsung serviu como ponto de partida para o painel temático “Acelerando Inovações: A Dinâmica da Colaboração Aberta”. A iniciativa, que investiu 5 milhões de dólares para acelerar 50 empresas, revelou limitação fundamental: mesmo corporações globais enfrentam restrições internas para gerar inovações competitivas. Essa constatação orientou o debate realizado nesta quarta-feira (15), moderado por Luís Gustavo, gerente de projetos e operações da Anprotec, que reuniu cinco especialistas para discutir como a colaboração aberta supera esses gargalos em diversos setores.
A Plataforma de Inteligência Cooperativa de Atenção Primária à Saúde (PICAPS) desenvolvida pela Fiocruz Brasília exemplificou o potencial da colaboração na saúde pública. Izabela Gimenes Lopes, coordenadora da Célula de Inovação Aberta do Pólen na ENSP/Fiocruz, apresentou projeto realizado em parceria com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal que atraiu 235 inscritos de instituições como Ministério da Saúde, UnB e startups. O resultado foram 25 soluções incubadas em três edições de hackathon, com investimento aproximado de R$ 1 milhão formalizando oito equipes e produzindo 24 artefatos jurídicos baseados no Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Gimenes Lopes destacou iniciativas complementares como o Hack Girls, maratona de desenvolvimento tecnológico para meninas das favelas do Rio de Janeiro. O programa oferece bolsa de R$ 400 para participantes e mentorias com pesquisadores, demonstrando como colaboração aberta integra aspectos educacionais e de inclusão social. A iniciativa conquistou primeiro lugar no prêmio Conexão à Inovação Pública, validando sua abordagem de retorno social através da inovação.
O setor público brasileiro dispõe de instrumentos legais para inovação colaborativa, conforme apontou Octávio Magalhães, sócio consultor da OAM Consulting. O CPSI (Contratação de Soluções Inovadoras) autoriza órgãos públicos a testar soluções com até R$ 1,6 milhão em 12 meses, evoluindo para fornecimento estendido quando validadas. Exemplos como a Caderneta Digital do Recife, que atendeu mais de 108 mil crianças via cocriação, e o robô ALICE da Controladoria Geral da União, que identificou R$ 11,7 bilhões em licitações suspeitas, demonstram potencial dessa abordagem. O Escritório de Inovação Aberta do TCU economizou R$ 1,81 bilhão ao conectar governo, startups e universidades.
A dimensão humana da colaboração emergiu como elemento transformador no debate. Rodrigo Carancho, diretor da Escola Aberta do Cuidado, reposicionou a discussão além de métricas econômicas através de narrativas sobre relação intergeracional e cuidado como sistema colaborativo ancestral. Carancho referenciou o povo Guarani e o conceito de Nhandereko, modo de ser e viver guarani transmitido oralmente entre gerações, ilustrando como dinâmicas colaborativas estruturam-se em saberes tradicionais.
Carancho narrou a história de Cartola oferecendo passagem de ônibus ao jovem Paulinho nos anos 1960 para exemplificar colaboração como criação de condições. Quando o compositor pavimentava caminho para uma trajetória artística, colaborava sem saber que transformaria a história cultural brasileira. Para Carancho, esse tipo de gesto ordinário e pequeno abre caminho para alguém, construindo condições para que vidas existam e se mantenham melhoradas.
O setor espacial funcionou como catalisador de inovação em múltiplos segmentos, conforme apresentou Erik Busnello Imbuzeiro, assistente na Agência Espacial Brasileira. O paradigma New Space mistura atores estatais e comerciais com emergência de startups espaciais, contrastando com o modelo Old Space liderado tradicionalmente por governos. A Agência Espacial Brasileira trabalha com incubação de empresas voltadas para aplicações espaciais utilizando dados satelitais, complementada por catálogo que reúne empresas envolvidas no setor.
A encomenda tecnológica emergiu como mecanismo capaz de permitir ao Brasil replicar modelo utilizado pela NASA desde 1960. Segundo Imbuzeiro, o contrato para desenvolvimento de sistema de navegação inercial envolveu R$ 15,76 milhões, contra estimativa de R$ 15,02 milhões, demonstrando eficiência orçamentária mesmo em projetos de alta complexidade. Essa ferramenta se apresenta como adequada para lidar com incertezas inerentes à tecnologia estratégica, permitindo estruturação de fases, fixação de remuneração e distribuição de riscos.
A análise do Estado brasileiro como agente de inovação revelou ambivalência estrutural. Rafael de Oliveira Rezende, gestor de inovação governamental no Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, apontou exemplos como SUS, urna eletrônica, Bolsa Família e PIX que demonstram capacidade inovadora consolidada. Contudo, Rezende identificou gargalos sistêmicos: cultura de inovação fraca, assimetria federativa entre esferas de governo, burocracia disfuncional, descontinuidade de políticas, aversão ao risco por gestores públicos e isolamento burocrático que dificulta comunicação com ecossistema externo.
A proposta GINGA surge como movimento para uma política de inovação governamental estruturada. Rezende apresentou o acrônimo representando governança, incentivos, normas, gestão de capacidades inovativas e ambiência como resposta à fragmentação institucional. Lançado recentemente na Escola Nacional de Administração Pública, o programa já reuniu mais de 700 especialistas em oficina inicial e pretende percorrer o Brasil para articular o ecossistema de inovação em governo. Iniciativas complementares como a plataforma Desafios da ENAP e a caravana de inovação da Advocacia-Geral da União ampliam o alcance institucional da colaboração aberta para prefeituras e municípios.
Sobre a 35ª Conferência Anprotec
A 35ª Conferência Anprotec acontece de 13 a 16 de outubro de 2025, em Foz do Iguaçu (PR), com o tema “Ecossistemas colaborativos e integrados à inovação global”. O evento é promovido pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). A realização local é do Sistema Estadual de Ambientes Promotores de Inovação do Paraná (Separtec), da Fundação Araucária, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e do Governo do Estado do Paraná.