Durante a última Conferência Anprotec, realizada na cidade do Rio de Janeiro, mais cinco incubadoras receberam a certificação Cerne: a Unitec – Unisinos, de São Leopoldo (RS); o Parque de Desenvolvimento Tecnológico – Padetec – Fortaleza (CE); a Incubadora Tecnológica e do Agronegócio de Mossoró – IAGRAM – Mossoró (RN); a SUPERA Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Ribeirão Preto – Ribeirão Preto (SP); e a Incubadora Santos Dumont – Foz do Iguaçu (PR).
A Anprotec conversou com representantes dessas incubadoras e perguntou a respeito dos preparativos para a certificação e sobre os desafios e benefícios identificados ao longo do processo. Confira abaixo.
Unitec – Unisinos, de São Leopoldo (RS)
Segundo o gerente, essas mudanças impactaram positivamente o percurso das 15 startups que se graduaram na Unitec, desde a implantação do Cerne. “A qualificação, que sempre foi um dos nossos pontos fortes, e o monitoramento, também um dos elementos presentes no Cerne, ajudaram na nossa compreensão do empreendedor, o que acaba potencializando a trajetória das nossas incubadas”.
Para Aranha, os benefícios também foram sentidos na vertente de mercado. “Particularmente, acredito que a Unitec se destaca pela suas ações de relacionamento com o mercado. Fazemos uso intenso dos canais disponíveis, temos uma fanpage, newsletters com contatos nacionais e internacionais e mantemos um excelente relacionamento com grandes veículos de mídia”.
A instituição está se planejando para obtenção do Cerne 2. “As pessoas que trabalham aqui na Unitec estão motivadas, constantemente pensando em como colocar em prática processos e melhorias que possam ajudar no desenvolvimento dos nossos incubados. Quando estamos falando de incubadora, sempre acabamos falando do Cerne”, finaliza Aranha.
Parque de Desenvolvimento Tecnológico (Padetec), de Fortaleza (CE)
“O processo de certificação no Cerne vem ocorrendo de uma maneira gradual dentro do Padetec há alguns anos. Neste período, adotamos as práticas-chave do Cerne e colocamos as nossas empresas dentro do novo registro que o Cerne exige. Isso foi paulatinamente implantado, montamos uma equipe, criamos uma sala especial para o Cerne, conseguimos apoio do Sebrae, entre outras iniciativas”, conta Afrânio Craveiro, diretor presidente do Padetec.
O processo também impactou as empresas ligadas ao Padetec. “Práticas que demandam a colaboração das incubadas, por exemplo, a de monitoramento ou os treinamentos, normalmente exigem que os empresários estejam dispostos a compartilhar informações ou a investir tempo na capacitação. Fizemos um trabalho cuidadoso para mostrar a eles que a certificação Cerne é importante não só para o Padetec, mas também para a empresa”, comenta.
Para o presidente da instituição, os benefícios da certificação são bastante claros e não se resumem a um novo status perante os incubados. “A incubadora também adquire um status diferenciado perante os órgãos financiadores, o que facilita, inclusive, as negociações com possíveis investidores e empresários”.
“O selo Cerne é uma exigência para o sistema, que primou muito no começo pela quantidade de incubadoras, não olhando muito para a qualidade. Agora, Cerne está fazendo essa correção no sistema. Não podemos olhar só para a quantidade de incubadoras no Brasil, mas precisamos garantir também a qualidade dessas instituições”, finaliza Afrânio.
Incubadora Tecnológica e do Agronegócio de Mossoró – IAGRAM – Mossoró (RN)
Criada em 2005, na então recém criada Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), a Incubadora Tecnológica e do Agronegócio de Mossoró – IAGRAM tinha, no início, o objetivo de apoiar pequenas Associações e Cooperativas do Setor de Apicultura de Mossoró e Região com apoio do SEBRAE-RN. Em 2008, incorporou o trabalho com o agronegócio e passou a trabalhar com projetos oriundos da própria UFERSA.
Em meados de 2013, a IAGRAM passou por outra abertura de mercado, e começou a incubar projetos de tecnologia, principalmente ligados à universidade. “Nesta mesma época, começamos a implantar o modelo de gestão Cerne e logo tivemos um choque de realidade. Incubadoras como a IAGRAM, ligadas a universidades, possuem a cultura das instituições às quais estão associadas, e o Cerne traz um modelo mais proativo, mais ligado à realidade do mercado”, destaca Ygo Biserra Pereira, gerente operacional da IAGRAM.
“A mudança foi bastante drástica. Como o Cerne bate muito na tecla de registro e de processos, as nossas incubadas começaram a ter um padrão muito maior. Além disso para Universidades, que possuem rotatividade em cargos, esses modelos de gestão são especialmente importantes, já que resultam em um Manual de Procedimentos, que vão ficar para os próximos gestores da incubadora”, completa Pereira.
SUPERA Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Ribeirão Preto – Ribeirão Preto (SP)
O movimento do Cerne na Supera começou junto às primeiras turmas de capacitação, em 2011 e 2012. “A Supera sempre se preparou para a implantação das práticas do Cerne, mas foi quando chegaram os recursos do Sebrae pudemos contratar uma consultoria especializada e pudemos estruturar todas as iniciativas”, diz Reinaldo Tsuyoshi Igarashi, consultor do Cerne na Supera Incubadora.
No momento dessa estruturação, a incubadora já tinha adotado muitas das práticas sugeridas pelo Cerne, mas faltava a caracterização de um modelo, para caracterizar que os processos estavam dentro dos padrões exigidos pela metodologia Cerne. “Foram necessários ajustes pequenos em alguns pontos específicos e melhorias em práticas que já estavam sendo executadas, o que fizemos nestes últimos dois”, conta Igarashi.
Para o consultor, o principal desafio desse processo foi a mudança da cultura. “As ferramentas, a tecnologia e o modelo são empregados para auxiliar, mas muitas vezes é difícil mudar a mentalidade tanto da equipe interna, quanto dos empreendedores, que passaram a ter um papel muito mais ativo e se depararam com um planejamento muito mais intenso, por parte da incubadora”.
Incubadora Santos Dumont – Foz do Iguaçu (PR)
“Em 2012, fomos selecionados por um edital da Anprotec e do Sebrae que garantia recursos para a implantação das práticas Cerne e começamos a fazer uma grande reformulação em todo o nosso processo de incubação. O novo modelo saiu em 2013, já bastante alinhado às recomendações do Cerne”, explica Gideão Matinc Claro, analista de negócios da Incubadora Santos Dumont/Parque Tecnológico Itaipu (PTI).
A implantação foi bastante aderente à realidade do processo de incubação. “O Cerne nos diz o que fazer e não como fazer, o que é um avanço muito grande, já que não restringe a atuação da incubadora. Isso abriu a possibilidade de implantarmos as práticas de acordo com as nossas características institucionais, garantindo um melhor resultado”, completa.
Antes, Gideão conta que a incubadora tinha uma média de 12 projetos ao ano e, atualmente, esse número chega a 45 projetos, o que exige mais processos e modelos. No entanto, os benefícios não se resumem ao aumento no número de projetos. “A gestão da própria incubadora foi melhorada e hoje temos uma visão ampliada de todo o processo de incubação”.
Para finalizar, Gideão sugere que o Cerne pode ajudar a fortalecer as incubadoras no país. “A ampliação do modelo Cerne a um número maior de incubadoras pode ajudar na padronização do sistema nacional de incubação, respeitando, é claro, as características regionais e de cada instituição. Existem requisitos mínimos para que uma incubadora possa ser considerada uma incubadora, e o Cerne pode ajudar na identificação e cumprimento desses requisitos”, conclui.